Na semana passada lancei nas redes sociais um questionário com diversas perguntas para os meus seguidores. Havia nele quatro temas principais: relacionamento; família; financeiro/trabalho; e saúde.
A primeira pergunta era: “qual o seu principal objetivo para este ano?” Peguei uma seguidora como exemplo (a chamarei de Maria) que respondeu que o principal objetivo dela é: “encontrar meu verdadeiro amor”. De princípio é uma bela resposta. Porém se olharmos um pouco mais profundamente para essa resposta, podemos ver muitos aspectos. O primeiro é que ela, como a grande maioria das pessoas, busca o amor fora, em outra pessoa. Segundo, ela não olha para si mesma.
Podemos ver também a crença em um amor que vem para salvá-la, para resgatá-la. Quantos de nós, em algum momento da vida, não pensou dessa forma? Até hoje se pensarmos socialmente, procuramos um político que salve o nosso país, a nossa sociedade, a nossa família.
Quando vemos as outras respostas dessa seguidora confirmamos essas primeiras percepções. Quando perguntada se existe algum obstáculo para realizar esse objetivo, ela responde que o obstáculo é “a outra pessoa”. Confirma que ela está apostando todas as suas fichas no outro e não em si mesma.
A próxima pergunta foi: “qual área da sua vida você sente mais dificuldade?” Ela responde “família”. Essa resposta demonstra a raiz do problema de Maria. Claramente ela traz essa dificuldade dos relacionamentos com a família. Mas o que aconteceu com Maria para ela “não estar encontrando o verdadeiro amor”?
A conclusão está na próxima resposta dela. Quando perguntada “baseado na resposta anterior, qual a sua principal dificuldade nessa área?” Ela respondeu: “reconhecimento”. Então muito provavelmente Maria traz essa ferida de não ser reconhecida, vista, amada pelos seus próprios pais e familiares. Podemos depreender também que nas suas tentativas de relacionamento Maria nunca era reconhecida pelos parceiros.
“Como você se sente em relação a essa dificuldade?” Foi a próxima pergunta, à qual Maria respondeu que se sente “abandonada”. Isso confirma mais ainda o sentimento de não reconhecimento e abandono experienciado por ela desde a infância. Quando trazemos uma ferida de abandono, por exemplo, da nossa infância, ela se projeta em todas as nossas relações, tanto íntimas quanto sociais.
A pergunta seguinte foi: “na sua visão, felicidade é…”. Ao que Maria responde: “Ser amada desde o dia que nascemos”. E complementou: “O amor que não recebemos na infância dita os infortúnios”. Verificando esse último insight dela, podemos perceber que Maria aponta para a raiz do seu problema. Mas induzimos também que ela não sabe como sair desse emaranhamento.
Krishnananda no seu livro ‘O amor não é um jogo de criança, explica: “Quando entramos em nosso mundo interior de abandono e privação, estamos no mundo de uma criança muito pequena que precisa desesperadamente de amor, que se sente sozinha, assustada, desprotegida e deseja alguém para cuidar dela.”
Essa citação do autor reforça nossa percepção que que Maria está vivendo a ferida do abandono e da privação. E ele complementa: “Esse lugar dentro de nós abriga um pânico tão intenso que passamos a maior parte da vida tentando evitá-lo. Entretanto, quando alguém nos deixa ou quando nos sentimos isolados e sós, esse lugar se abre.”
Quando esse espaço se abre e expomos a ferida do abandono, precisamos dar passos para curá-la, integrá-la ao nosso complexo emocional. E o primeiro passo é compreender que carregamos uma ferida. E essa ferida é nossa.
O próximo passo é através da auto aceitação acolher essa ‘criança ferida’. Se nossos pais não foram capazes de acolher esse filho, essa tarefa agora nos cabe.
O autoamor surge quando nos permitimos abraçar, acolher nossa criança ferida. Essa auto compaixão resulta em uma abertura do coração, do amor. E somente o amor é curativo.
Somente quando estivermos preparados para nos observar, nos aceitar, nos amar, podemos nos curar de todas as feridas. A autocura não é um processo difícil, porém precisamos investir uma boa parcela da nossa energia para “encontrar nosso verdadeiro amor”. Ele continua nos aguardando, mas precisamos dar passos conscientes na sua direção.
Namastê!