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Curando a ferida do abandono
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Psicoterapeuta sistêmico com especialização em Psicologia Transpessoal e Psicoterapia Somática Integrada. Viveu na Índia onde se aprofundou em diversas abordagens terapêuticas e de meditação. Fez cursos e supervisão em Constelação Familiar com Bert e Sophie Hellinger e foi o introdutor da Constelação no Ceará; Ashara atende individualmente e ministra cursos de formação em Constelação em diversas cidades do Brasil. Veja mais: www.ashara.com.br

Guilherme Ashara comportamento

Curando a ferida do abandono

Somente quando estivermos preparados para nos observar, nos aceitar, nos amar, podemos nos curar de todas as feridas.
Tipo Análise

Na semana passada lancei nas redes sociais um questionário com diversas perguntas para os meus seguidores. Havia nele quatro temas principais: relacionamento; família; financeiro/trabalho; e saúde.
A primeira pergunta era:  “qual o seu principal objetivo para este ano?” Peguei uma seguidora como exemplo (a chamarei de Maria) que respondeu que o principal objetivo dela é: “encontrar meu verdadeiro amor”. De princípio é uma bela resposta. Porém se olharmos um pouco mais profundamente para essa resposta, podemos ver muitos aspectos. O primeiro é que ela, como a grande maioria das pessoas, busca o amor fora, em outra pessoa. Segundo, ela não olha para si mesma.

Podemos ver também a crença em um amor que vem para salvá-la, para resgatá-la. Quantos de nós, em algum momento da vida, não pensou dessa forma? Até hoje se pensarmos socialmente, procuramos um político que salve o nosso país, a nossa sociedade, a nossa família.

Quando vemos as outras respostas dessa seguidora confirmamos essas primeiras percepções. Quando perguntada se existe algum obstáculo para realizar esse objetivo, ela responde que o obstáculo é “a outra pessoa”. Confirma que ela está apostando todas as suas fichas no outro e não em si mesma.

A próxima pergunta foi: “qual área da sua vida você sente mais dificuldade?” Ela responde “família”. Essa resposta demonstra a raiz do problema de Maria. Claramente ela traz essa dificuldade dos relacionamentos com a família. Mas o que aconteceu com Maria para ela “não estar encontrando o verdadeiro amor”?

A conclusão está na próxima resposta dela. Quando perguntada “baseado na resposta anterior, qual a sua principal dificuldade nessa área?” Ela respondeu: “reconhecimento”. Então muito provavelmente Maria traz essa ferida de não ser reconhecida, vista, amada pelos seus próprios pais e familiares. Podemos depreender também que nas suas tentativas de relacionamento Maria nunca era reconhecida pelos parceiros.

“Como você se sente em relação a essa dificuldade?” Foi a próxima pergunta, à qual Maria respondeu que se sente “abandonada”. Isso confirma mais ainda o sentimento de não reconhecimento e abandono experienciado por ela desde a infância. Quando trazemos uma ferida de abandono, por exemplo, da nossa infância, ela se projeta em todas as nossas relações, tanto íntimas quanto sociais.

A pergunta seguinte foi: “na sua visão, felicidade é…”. Ao que Maria responde: “Ser amada desde o dia que nascemos”. E complementou: “O amor que não recebemos na infância dita os infortúnios”. Verificando esse último insight dela, podemos perceber que Maria aponta para a raiz do seu problema. Mas induzimos também que ela não sabe como sair desse emaranhamento.

Krishnananda no seu livro ‘O amor não é um jogo de criança, explica: “Quando entramos em nosso mundo interior de abandono e privação, estamos no mundo de uma criança muito pequena que precisa desesperadamente de amor, que se sente sozinha, assustada, desprotegida e deseja alguém para cuidar dela.”

Essa citação do autor reforça nossa percepção que que Maria está vivendo a ferida do abandono e da privação. E ele complementa: “Esse lugar dentro de nós abriga um pânico tão intenso que passamos a maior parte da vida tentando evitá-lo. Entretanto, quando alguém nos deixa ou quando nos sentimos isolados e sós, esse lugar se abre.”

Quando esse espaço se abre e expomos a ferida do abandono, precisamos dar passos para curá-la, integrá-la ao nosso complexo emocional. E o primeiro passo é compreender que carregamos uma ferida. E essa ferida é nossa.

O próximo passo é através da auto aceitação acolher essa ‘criança ferida’. Se nossos pais não foram capazes de acolher esse filho, essa tarefa agora nos cabe.

O autoamor surge quando nos permitimos abraçar, acolher nossa criança ferida. Essa auto compaixão resulta em uma abertura do coração, do amor. E somente o amor é curativo.

Somente quando estivermos preparados para nos observar, nos aceitar, nos amar, podemos nos curar de todas as feridas. A autocura não é um processo difícil, porém precisamos investir uma boa parcela da nossa energia para “encontrar nosso verdadeiro amor”. Ele continua nos aguardando, mas precisamos dar passos conscientes na sua direção.

Namastê!

 

 

Foto do Guilherme Ashara

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