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Elena: identificando uma visão sistêmica
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Psicoterapeuta sistêmico com especialização em Psicologia Transpessoal e Psicoterapia Somática Integrada. Viveu na Índia onde se aprofundou em diversas abordagens terapêuticas e de meditação. Fez cursos e supervisão em Constelação Familiar com Bert e Sophie Hellinger e foi o introdutor da Constelação no Ceará; Ashara atende individualmente e ministra cursos de formação em Constelação em diversas cidades do Brasil. Veja mais: www.ashara.com.br

Guilherme Ashara comportamento

Elena: identificando uma visão sistêmica

O que mais me impressionou no documentário foi o movimento de cura feito intuitivamente pela irmã mais nova - Petra. Primeiro ela percebeu que a irmã mais velha estava totalmente dentro dela.
Elena, filme de Petra Costa, que aborda o suicídio (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Elena, filme de Petra Costa, que aborda o suicídio

Assisti o documentário ‘Elena’ dirigido por Petra Costa. Petra narra a história de sua irmã que sonha ser atriz e acaba cometendo suicídio aos 20 anos.

É um lindo documentário e o mais interessante pra mim foi ver o mesmo ressaltar de forma tão clara o que mostram as leis sistêmicas ou ordens do amor de Bert Hellinger.

Se não vejamos: a mãe de Elena e Petra vê o seu sonho de ser atriz e morar nos EUA interrompido ao encontrar o seu futuro marido que chega dos EUA para o Brasil com o sonho de ser militante político e ela segue o sonho do marido.

Elena vive os primeiros anos de suas vidas na clandestinidade, em virtude de seus pais serem ativistas políticos vinculados ao Partido Comunista, na época da Ditadura Militar brasileira.

Podemos ver nesse fato que se Elena vive na clandestinidade por amor a seus pais e que se ela, mais tarde, quer ter sucesso ela tem que sair da clandestinidade internalizada na sua infância. Mas como ela pode fazer isso? No inconsciente de Elena isso seria trair seus pais que viveram escondidos para sobreviver e para salvá-la.

Elena então começa a ter o mesmo sonho da mãe: ser atriz e morar em Nova York. Na visão da constelação dizemos que a filho toma emprestado os sentimentos e até mesmo, nesse caso, os sonhos da mãe. Isso se mostra tão claro que na segunda vez que Elena quer ir para os EUA, sua mãe vai junto para morar lá. Na constelação dizemos que a filha diz para a mãe: “Eu por você” ou “eu faço por você, querida mãe!” Após várias tentativas frustradas de se tornar atriz, ela desiste, e aos 20 anos comete suicídio.

A mãe tomada por uma culpa avassaladora e cruel, declara que só não seguiu a filha na morte por causa da filha mais nova - Petra - que completara 7 anos de idade. Na constelação usamos uma frase para representar essa situação da mãe seguir a filha na morte, ela diz: “Eu sigo você!” O pai em outra cena fala algo muito semelhante.

Outro fato que mostra de forma cristalina a fixação e dor dos pais é que eles deixam de ver, de olhar para a filha mais nova. Em uma cena, ela suplica à mãe que a veja, mas a mãe na sua dor e tristeza profundas não consegue superar a culpa e a ferida da perda da primogênita.

E qual seria a grande culpa da mãe? Na minha visão, seria não conseguir ver a essência de Elena! O que ela via era o reflexo de suas próprias expectativas frustradas de se tornar atriz. E a filha, por amor, tentava fazer isso por ela. Até perceber que a carga e o peso dessas expectativas eram tão grandes que não conseguiu mais carregar e suicidou-se.

No momento que percebemos isso numa constelação, pedimos que a filha diga à sua mãe: “Mãe, carrego algo que não me pertence e agora eu devolvo a você, por favor, tome o que é seu!” Nesse momento a filha fica livre dessa carga da mãe e pode seguir a sua vida em busca dos seus próprios sonhos.

O que mais me impressionou no documentário foi o movimento de cura feito intuitivamente pela irmã mais nova - Petra. Primeiro ela percebeu que a irmã mais velha estava totalmente dentro dela. Dai ela se lançou num ritual de cura, tomando a irmã tão totalmente que as duas se tornaram uma.

Na constelação fazemos quase sempre, nesses casos, o mesmo ritual. Colocamos uma pessoa deitada no chão para representar a irmã falecida e num determinado momento pedimos à irmã viva que se deite ao lado de sua irmã falecida. As duas se sentem, se olham, talvez digam algo uma para a outra e depois de um bom tempo, naturalmente a irmã que ainda vive se levanta e pode dizer para a outra: “agora eu vivo um pouco mais e enquanto eu viver, faço algo de bom da minha vida em seu nome e em sua homenagem, minha querida irmã!”

E Petra fez realmente uma linda homenagem para a irmã criando este lindo filme. Essa é uma boa indicação de filme para aqueles que se interessam por constelação familiar e querem ter um excelente exemplo de um caso sistêmico.

Namastê!


Foto do Guilherme Ashara

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