Guilherme Gonsalves escreve sobre política cearense com foco nas atuações Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) e Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), mostrando os seus bastidores desdobramentos no jogo político e da vida do cidadão. Repórter de Política do O POVO, setorista do Poder Legislativo, comentarista e analista. Participou do programa Novos Talentos passando pelas editorias de Audiência e Distribuição e Economia, além de Política. Também escreve sobre cinema para o Vida&Arte
A cidade não queria moderação e continuidade - queria ruptura. Essa ruptura tinha liderança, espírito revolucionário, um sorriso encantador: Maria Luiza Fontenele
Foto: Manuel Cunha, em17/11/1985 - Arquivo O POVO DOC
MARIA Luiza na sua festa da vitória. À esquerda, o atual deputado federal José Guimarães
Fortaleza voltara a eleger um prefeito após 23 anos. Entre os candidatos, Paes de Andrade era o que representava o reformismo moderado, Lúcio Alcântara o da ordem estabelecida, mas a cidade não queria moderação e continuidade - queria ruptura. Essa ruptura tinha liderança, ideias operárias, espírito revolucionário, um sorriso encantador e nome: Maria Luiza Fontenele.
Uma certa magia
Há 40 anos, Fortaleza vivia uma empolgação marcante ao eleger a primeira mulher a ser prefeita da Capital. As ruas celebravam o momento histórico ao som de uma trilha sonora que conduziu toda a campanha.
"Era um movimento muito grande na cidade. Os ônibus andavam circulando num movimento medonho, mandando o povo subir pra votar em mim. Onde a gente chegava era uma alegria total. Nas ruas que eu passava encontrava mulheres e idosas, cadeirantes nas calçadas distribuindo panfletos para votar na Maria e a música "Maria Maria" (de Milton Nascimento) tocando", relembrou Maria emocionada à coluna.
É preciso ter gana sempre
Então deputada estadual, o fenômeno político de Maria conquistou o público com o seu carisma e promessa de uma quebra no sistema vigente na política cearense. Comunista convicta com apoio da classe trabalhadora, mulheres, comunidades, movimentos estudantis e igreja.
Ao relembrar da reta final da campanha, Maria destacou comícios de madrugada, apoio em peso da militância, sendo a força que alertava Fortaleza.
"Seria muito não falar do dia 12. Na madrugada faz escuro, mas eu canto porque a manhã vai chegar", declarou, recitando um verso de Madrugada Camponesa do poeta Thiago de Mello.
É preciso ter sonho sempre
O carnaval do dia 15 de novembro, data da votação, até a apuração e, posteriormente, a celebração, parou a cidade de Fortaleza. Maria, enquanto aguardava o resultado, já se sentia prefeita.
"Quando vi o resultado da apuração, lembro que saí pra almoçar na casa da minha mãe (Diva) e pedi para que ela não me deixasse nunca trair o povo".
Maria afirmou que a rodar a cidade em celebração, se sentia como na revolução soviética, com a certa magia espalhada pelas ruas.
"A loucura que aconteceu com a revolução, povo nas ruas, bandeiras e cores. Onde a gente passava tinha bandeira do PT. Foi uma coisa extraordinária. Lembro muito de um fotógrafo 'atrepado' em uma árvore, filmando", disse.
Estranha mania de ter fé na vida
A vitória de Maria em 15 de novembro de 1985 foi a expressão do até então maior fenômeno cearense, rompendo a lógica de poder de décadas de um povo com gana de mudança. Ou como disse Maria em sua posse:
"Uma esperança que encontrou sempre as maiores dificuldades para se fortalecer, e que apesar de tudo, manteve-se inteira".
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