Guilherme Gonsalves escreve sobre política cearense com foco nas atuações Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) e Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor), mostrando os seus bastidores desdobramentos no jogo político e da vida do cidadão. Repórter de Política do O POVO, setorista do Poder Legislativo, comentarista e analista. Participou do programa Novos Talentos passando pelas editorias de Audiência e Distribuição e Economia, além de Política. Também escreve sobre cinema para o Vida&Arte
Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados
Mesa diretora da Câmara dos Deputados
São de chocar os números referentes a feminicídios e violência contra a mulher. Neste cenário sobejamente grave e complexo, atos têm sido levantados para chamar atenção do problema que é. O público masculino, único culpado, tem sido provocado se posicionar.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma fala recente sobre o tema em visita a Fortaleza. Um posicionamento importante do chefe da República do Brasil e uma das figuras mais influentes do mundo. Ele convocou os "homens de bem" para combaterem o feminicídio.
"Vou liderar um movimento, conversar com todos os poderes. Nós, homens que temos caráter, que tratamos as mulheres com respeito, não podemos aceitar que alguém ligado a gente seja violento com a mulher", disse.
Edson Fachin, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), também se posicionou em meio a alarmantes e inaceitáveis indicativos, indo na raiz do problema, a cultura machista instalada.
"Renovamos o apelo urgente por uma mudança cultural profunda: que o Brasil reconheça, sem hesitação, a gravidade da violência de gênero; que o silêncio, o preconceito e a naturalização de atitudes machistas sejam substituídos pela denúncia, pelo apoio à vítima e pela exigência de responsabilização", declarou o líder da mais alta corte de Justiça do País.
É importante que esse clamor ganhe adesão de homens que ocupam os espaços de poder e lideranças. Nos dois exemplos, estão o chefe do Poder Executivo e do Judiciário do Brasil.
Em 2024, o Brasil teve uma média de quatro mulheres assassinadas por dia, sendo os principais agressores os companheiros e ex-companheiros. Algo lamentavelmente normalizado, muitas vezes sob o pretexto de que em "briga de marido e mulher ninguém mete a colher".
A política é dominada por homens. Apesar de mulheres serem a maioria da população e de eleitoras, o ambiente mesmo em 2025 é hostil para aquelas que são vozes e lideranças de pautas que impactam a sociedade como um todo. Mas existe um problema aí. Se elas são maioria, como esse espaço de voz e decisão não é também majoritariamente feminino?
Mulheres ainda são alvo de instrumentalização na política. A Justiça Eleitoral exige uma cota mínima para que as chapas sejam formadas, e mesmo assim fraudes estão sendo detectadas a todo momento. Mesmo que suas participações sejam garantidas por lei, protagonismo político é ceifado. Das mulheres alçadas à política, muitas são filhas, esposas e familiares de um grupo político já estabelecido.
E isso no dia a dia. Não precisa chegar o momento da disputa da eleição, quando mulheres são preteridas e atropeladas em processos, mas também nas microviolências. As permissividades de piadas, comentários misóginos, interrupção de falas. Se levanta a voz, já recebe a alcunha de "descontrolada". É uma tentativa de diminuir um espaço com base em mais machismo.
Essas posturas levadas aos parlamentos brasileiros, em âmbito municipal, estadual e nacional são réplicas da cultura impregnada na sociedade. Os homens que estão acostumados a desmerecerem a voz de mulheres no dia a dia. Quem reclama no trânsito e diz "só podia ser mulher" vai aceitar ao ver uma política protagonista nestes espaços de poder?
Da piada vem a diminuição, a normalização de injustiças diárias até escalonar em uma macheza que persegue e é odienta às mulheres, se vendo no direito ou postura de superioridade a ponto de normalizar ou cometer o crime.
Enquanto não houver entendimento da gravidade, autocrítica e mudança, não se dissipará a cultura de ataques e violências contra a mulher.
Um dos meios para isso é a política. E para isso, respeitar o espaço conquistado por elas nas mesas de decisões.
Cabe a nós homens fazermos uma reflexão. Ser complacente, minimizar, se calar ou se omitir dessa questão é dar vazão a que a violência persista. Se não se encaixa no padrão que comete tais violência, é preciso vestir a carapuça. Afinal, quem são os culpados do machismo?
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