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Para Calvino Pereira
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Para Calvino Pereira

"Seu Calvino", com quem tive longas e saborosas conversas sobre música, cinema e as histórias da Fortaleza antiga, paixões que compartilhávamos, foi uma rara unanimidade
Tipo Opinião

Hoje, neste dia 30 de março, a seção cearense da Ordem dos Advogados do Brasil aniversaria de 90 anos. Fruto do gênio e do engenho de três advogados, seus pais fundadores - Clodoaldo Pinto, José Martins Rodrigues e Edgar Cavalcante de Arruda (este viria a ser seu primeiro presidente), começa a ser escrita naquele distante ano de 1933 a história de uma instituição que, para além de suas responsabilidades de índole eminentemente corporativas, como a representação, seleção, defesa e disciplina de seus inscritos, tornar-se-ia, sem dúvida e sem favor, a mais importante instância da sociedade civil, trincheira em defesa dos direitos e garantias inerentes à cidadania .

A conjugação de iniciativas em prol do exercício pleno e altaneiro da advocacia com ações em defesa dos postulados que informam a democracia e o estado de direito - por cujo império, de resto, hão de se bater todos os advogados e advogadas brasileiros verdadeiramente cônscios da relevância de seu papel na sociedade - tem sido a sua marca distintiva e essencial.

Bastante comum, esperável mesmo, em efemérides como a de que aqui trato, fazer-se um apanhado das conquistas e principais realizações alcançadas ao longo destas décadas de muita luta e trabalho em favor da afirmação da profissão e dos ideais democráticos, e as valiosas contribuições prestadas pelas diversas diretorias que se sucederam à frente da entidade, o que certamente seria de justiça, afinal não falta o que relatar,

Não seguirei, todavia, a regra de ouro. Deixo a missão para a comunicação oficial da entidade, que o fará com a competência de sempre, disso tenho certeza. Tampouco cederei às tentações do cabotinismo e da autopromoção, colhendo o momento e o espaço para rememorar realizações do meu período enquanto presidente, aqueles inesquecíveis triênios 2004-2006 e 2007-2009.

Faço diferente. Quero aqui, nesta data tão importante para a advocacia que se faz na terra de Beviláqua e Alencar, reverenciar a memória de um servidor cuja trajetória de vida se confunde com a própria história da entidade: Calvino Pereira da Silva.

Admitido aos serviços da OAB em 01 de agosto de 1962, ali trabalhando até o seu último dia de vida - 21 de julho de 2020, quando vitimado pela epidemia do Covid-19, "seu Calvino", com quem tive longas e saborosas conversas sobre música, cinema e as histórias da Fortaleza antiga, paixões que compartilhávamos, foi uma rara unanimidade. Eram reconhecidos sua lhaneza no tratamento que a todos dispensava, seu profissionalismo e preocupação com a preservação da memória histórica da instituição e da advocacia. Não sem boa razão ganhou o seu nome o memorial da OAB, obra que ele próprio, com muito amor, idealizou e construiu.

A máxima cunhada pelo polêmico escritor e teatrólogo Nelson Rodrigues, segundo quem "toda unanimidade é burra", encontra exceção quando o assunto é Calvino Pereira. Muito mais do que uma exceção, era ele puro afeto e amor pela advocacia e pela OAB. Quem o conheceu poderá atestar.

Nestes 90 anos da OAB, lembro Calvino. Com imensa saudade.

 

Foto do Hélio Leitão

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