Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados
Honório larga o hábito e por dez anos vaga pelo Brasil na mais absoluta clandestinidade. Volta à tona apenas em 1981, quando o regime militar já estava nos seus estertores e o país caminhava para a redemocratização
Concluímos hoje a série sobre as desventuras de Honório, afinal já são com este quatro os artigos sobre o tempo em que o nosso bravo e habilidoso personagem, com a polícia nos calcanhares e fingido adesão à vida reclusa, passou em um convento.
Se é certo que cedo ou tarde deixaria ele o noviciado à falta de vocação religiosa autêntica, os fatos acabaram por se precipitar. Meio que por obra do acaso.
Não era coisa rara que o convento recebesse visitas. Funcionava ele em um bonito prédio centenário, com belos jardins, nos altos de uma pequena montanha. Clima agradabilíssimo. Ainda hoje, um belo lugar. Vale bem uma visita.
Naquele sábado de sol, estava Honório recolhido em sua cela - nos conventos e mosteiros assim chamam os quartos - entregue à leitura, quando ouve o ronco surdo de motores de carros que subiam para o convento. Sua aproximação era perceptível a boa distância. Não percamos de vista que o episódio aqui tratado se desenrola nos começos dos anos 1970, quando os automóveis eram um bocado mais barulhentos.
Como sempre fazia nessas situações, regra de segurança, correu à portaria para se certificar da identidade dos visitantes. Qual não foi a sua surpresa ao ver, rumo do convento, três policiais seus velhos conhecidos. Em suas mãos havia padecido das mais bárbaras torturas. Honório respirou aliviado ao ver que estavam acompanhados de suas esposas. Tudo levava a crer tratar-se de uma coincidência.
Para evitar ser descoberto, segue em marcha batida para a capela do convento, fechada naquele momento, refugiando-se no coro, acima da porta de entrada, bem defronte ao altar do santíssimo. Dali a meia hora adentram os visitantes, acompanhados de um serviçal do convento. Ajoelham-se, contritos, no genuflexório, e iniciam as suas orações, quem sabe pediam perdão pelos seus pecados.
Estavam postados a apenas vinte metros de distância de Honório que, com o espírito tomado de um misto de medo e revolta, voltando-lhe à memória os horrores que lhe impingiram aqueles três militares, elucubrava: tivesse uma arma seria capaz de liquidá-los ali mesmo.
A ideia logo se dissipou. O ambiente sacro da capela, as imagens de anjos e santos, do Cristo crucificado, parecem ter operado na alma de Honório, a despeito da incredulidade que sempre nutriu quanto às coisas dos céus, em favor dos torturadores, ali tão compungidos.
Conteve seus ímpetos de vindita e convenceu-se de que, depois dessa, era chegada a hora de deixar o convento, que já não parecia um lugar seguro. Reunindo forças e coragem, confessou aos padres superior e provincial que não mais seguiria a vida conventual, procurando fazer crer aos reverendos que a vocação lhe deixara.
Honório larga o hábito e por dez anos vaga pelo Brasil na mais absoluta clandestinidade. Volta à tona apenas em 1981, quando o regime militar já estava nos seus estertores e o país caminhava aos trancos e barrancos para a redemocratização. Aguarda até hoje que os seus torturadores, que identifica pelo nome, sejam levados à barra da justiça.
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