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Foram vocês, como diria Pablo Picasso
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Foram vocês, como diria Pablo Picasso

A impressão que se tem é a de que a humanidade pouco ou nada aprendeu com a história. A verdade é que o fascismo, que anda nos rondando de novo, tem sido, desde sempre, o fermento da violência e das guerras
Espanhol Pablo Picasso, um dos mais famosos artistas do século 20, morreu em abril de 1973 na França (Foto: dpa/ picture alliance)
Foto: dpa/ picture alliance Espanhol Pablo Picasso, um dos mais famosos artistas do século 20, morreu em abril de 1973 na França

Tenho visto e sentido, não sem muito assombro e preocupação, o avanço do ideário da extrema-direita no mundo, Brasil inclusive, de que os governos de Giorgia Meloni na Itália, de Viktor Orbán na Hungria e de Donald Trump nos Estados Unidos, seriam os principais centros difusores. Há mesmo quem fale na ressurgência de uma "Internacional Fascista".

A receita é nossa velha conhecida e se prende, em última análise, à escolha, como fator de união nacional e validação de um regime elitista e autoritário, de inimigos, a serem dizimados para o bem e felicidade geral da nação - nacionalismo xenófobo, racismo em suas mais variadas expressões, supressão dos direitos fundamentais de minorias e grupos vulneráveis, acirramento político permanente, desmonte do estado social, são ingredientes sempre presentes, isto para ficarmos apenas em algumas referências. Numa palavra, sacrifica-se com pompa e circunstância a solidariedade e a empatia no altar enfeitado do individualismo e do interesse.

A impressão que se tem é a de que a humanidade pouco ou nada aprendeu com a história - a história que conta que o fascismo tem sido, desde sempre, o fermento da violência e das guerras.

Tomado dessas reflexões, pensando cá com os botões do meu paletó sobre do que são capazes os herdeiros ideológicos de Hitler e Mussolini, veio-me à lembrança um dos mais bárbaros crimes perpetrados pelos fascistas europeus. O bombardeio de Guernica, no País Basco, bem ao norte da Espanha.

Ali pelos anos 1937, as forças militares aéreas da Alemanha nazista e da Itália fascista aliam-se aos esforços do general Francisco Franco para por abaixo, pela força da baioneta e do canhão, o governo republicano constitucional há pouco eleito. E decidem bombardear Guernica, uma cidade pobre, com cerca de apenas cinco mil habitantes, sem qualquer relevância geopolítica.

O propósito era unicamente, como se concluiu, dar uma inequívoca demonstração de poderio bélico. Conseguiram, ao preço de muitas vidas. Foi o primeiro episódio de bombardeio aéreo de população civil, verdadeira câmara de ensaio dos horrores que se abateriam sobre o mundo com a deflagração da Segunda Grande Guerra.

Anos depois, Pablo Picasso, então residindo na Paris ocupada, ainda em plena guerra, pois, recebe em seu ateliê a visita de um oficial alemão. O homem da Gestapo dá com os olhos em uma reprodução de "Guernica", pintura já mundialmente célebre, em que o pai da escola cubista denuncia o massacre cometido na pequena aldeia e dispara, em tom de censura: Foi o senhor quem fez isso? Ao que o genial malaguenho responde: "Não, foram vocês. Eu apenas pintei".

Eles, sempre eles, os fascistas. Agora de volta.

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