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Brasil Nunca Mais - 40 anos
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Advogado, pós-graduado em Processo Penal e mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É professor do Centro Universitário Estácio/Ceará e da Universidade Sete de Setembro (Uni7). Fundador do escritório Hélio Leitão e Pragmácio Advogados

Brasil Nunca Mais - 40 anos

Com a chamada Nova República e a posse do primeiro presidente civil em 1985, o trabalho de documentação tornou-se público, na forma de um livro-denúncia, com o título BRASIL: NUNCA MAIS. Um sucesso editorial estrondoso
São Paulo - Lideranças na defesa dos direitos humanos homenageam os 95 anos de Dom Paulo Evaristo Arns em evento na Pontifícia Universidade Católica (PUC). (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil) (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil São Paulo - Lideranças na defesa dos direitos humanos homenageam os 95 anos de Dom Paulo Evaristo Arns em evento na Pontifícia Universidade Católica (PUC). (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

A ideia surge ali pelos começos dos anos 1980, sob o governo do general Figueiredo, quando a ditadura militar já estava em seu ocaso. Em uma conversa com Eny Moreira, advogada de presos políticos como ele, Sobral Pinto revela uma preocupação - nascida de suas vivências no combate às violências do Estado Novo, sobre o destino que seria dado aos processos judicias instaurados contra adversários políticos do regime que findava, muitos dos quais continham provas de torturas e violações várias de direitos.

Do período Vargas sobraram apenas os processos a que responderam Luís Carlos Prestes e Harry Berger. E a razão era simples: doutor Sobral, advogado de ambos, teve o cuidado de deles fazer cópia. Nada de novo. O último ato de toda ditadura é sempre atentar contra a memória e a verdade. A história não me deixa mentir.

A preocupação se transformou em um ousado projeto. Capitaneado pelo então arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright, lideranças religiosas com destacada atuação na defesa dos direitos humanos naqueles anos, logo pôs-se em marcha uma delicada operação de preservação da memória daqueles horrores. Nada menos que 707 processos foram retirados em carga do Superior Tribunal Militar e fotocopiados. Um total de mais de um milhão de páginas.

Os processos foram submetidos a uma equipe formada por acadêmicos, juristas e jornalistas, para condensação e sistematização das informações. Não era pouca coisa. Tinham em mão o corpo de delito dos crimes da ditadura, a prova insofismável das violações de direitos perpetradas pelo estado brasileiro contra os seus cidadãos.

Não sem razão todo o trabalho foi feito às ocultas, sob o mais absoluto sigilo, afinal ainda se vivia sob uma ditadura e os militares certamente não aprovariam nada daquilo. A operação custou caro e seu financiamento veio dos cofres do Conselho Mundial de Igrejas, organização ecumênica com sede em Genebra. O dinheiro ingressa no país clandestinamente.

Com a chamada Nova República e a posse do primeiro presidente civil em 1985, o trabalho vem a público, na forma de um livro-denúncia, com o título Brasil: Nunca Mais. Um sucesso editorial estrondoso. Por 91 semanas figurou na lista dos livros mais vendidos no país. Era o véu de silêncio que cobria os crimes da ditadura decaída.

Mais não conto porque o espaço não permite. A quem quiser saber dos detalhes e bastidores da verdadeira saga que foi esse projeto e sua imensa contribuição para a vida brasileira, recomendo o podcast NUNCA MAIS, série do Grupo Prerrogativas, apresentado pelo jornalista Camilo Vannuchi. Está tudo lá. Fica a dica.

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