"Roda Viva" mostra Camilo disposto a unir o que petistas e pedetistas não querem
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
É folclórico o equilibrismo do governador Camilo Santana (PT) sobre temas mais espinhosos. Na edição do “Roda Viva” (TV Cultura) dessa segunda-feira, 8, o petista mostrou-se novamente elástico.
Mas, a seu modo, deu muitas pistas sobre o que pretende fazer nas eleições municipais de 2020.
Camilo defendeu com todas as letras uma aliança entre PT e PDT, jogando luzes sobre o gesto que exonerou o petista Nelson Martins na última sexta-feira, 5.
Há quem tenha achado o chefe do Executivo evasivo em relação ao cenário na corrida ao Paço, mas, em bom “camilês”, a mensagem foi enfática. Qual?
A de que, caso não haja entendimento entre os dois partidos, a hipótese mais provável é a de neutralidade no primeiro turno das disputas na capital cearense.
Ou, depois da entrevista de ontem, alguém ainda acredita que Camilo seria capaz de contrariar o grupo de Ciro, Cid e Roberto Cláudio para apoiar a ex-prefeita e hoje deputada federal Luizianne Lins, uma quase desafeta, embora dividam as fileiras da mesma legenda?
É algo tão improvável quanto a possibilidade de que o PT ceda a cabeça de chapa em troca de uma composição com o PDT dos Ferreira Gomes.
O governador sabe disso. Tanto que destacou Nelson Martins como emissário à legenda para abrir uma nesga de diálogo. Difícil, sob qualquer ângulo que se veja o impasse.
Sobretudo num momento em que há pouca convergência entre Camilo e o próprio partido, situação levada ao paroxismo ontem na série de perguntas que serviram de tira-teima para comprovar o grau de petismo do governador.
E, se o "Roda Viva" conseguiu algo, foi explicitar mais ainda certo distanciamento do cearense no que se refere a algumas bandeiras do PT no cenário nacional, tais como o apoio aos protestos do último domingo, aqui dispersados sob o peso da tropa de choque da PM.
De todas as grandes questões conjunturais hoje, Camilo esteve em consonância com o PT apenas em uma durante o programa: impeachment de Dilma foi golpe. E foi uma concordância meio acanhada.
Nas demais, está longe das posições majoritárias no partido, como o impeachment de Bolsonaro e críticas a Ciro Gomes.
É esse o Camilo cujo desafio é unir PT e PDT nas eleições municipais numa cidade tão importante tanto para o pedetismo quanto para o petismo.
Para este porque já foi governada por uma filiada ao partido fundado por Lula.
Àquele porque é hoje a maior administração do PDT, uma joia a ser mantida em qualquer circunstância.
De uma vitória em Fortaleza dependem os projetos de Camilo, de Ciro em 2022 e de Roberto Cláudio agora e daqui a dois anos.
Não se esperava do governador que se manifestasse favoravelmente à candidatura de Luizianne Lins. Tampouco que se revelasse tão afinado ao trabalhismo cirista.
Trata-se de uma equação de difícil equilíbrio, mesmo para alguém habituado a manter-se com um pé em cada canoa partidária.
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