Camilo move peças, PDT silencia e oposição se articula
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Uma semana depois das exonerações de cinco secretários das gestões estadual e municipal, todos potenciais candidatos do governismo na corrida pela Prefeitura de Fortaleza, o cenário permanece incerto.
Há, porém, indicações importantes dos caminhos que seguirão PDT, PT, PSB, Cidadania, Pros, PSL e MDB, as principais forças que se movem na Capital.
Da parte do governador Camilo Santana (PT), os últimos dias foram de emissão de sinais evidentes sobre o que pretende: o petista quer um nome alternativo ao da deputada federal Luizianne Lins na disputa pela sucessão do prefeito e aliado Roberto Cláudio (PDT).
Isso ficou claro já na saída de Nelson Martins, admitido de público pelo agora ex-secretário de Relações Institucionais, que projetou a tentativa de costura de aliança PDT/PT.
O plano ganhou força com as declarações do governador no programa “Roda Viva”, na última segunda-feira, durante o qual Camilo afirmou que trabalha para um entendimento dos partidos da base, com vistas a uma chapa única para derrotar o nome do bolsonarismo – afirmação que ecoou o que Ciro Gomes já dissera dias antes.
E, finalmente, foi explicitado por avaliações recentes de aliados do chefe do Abolição, como os deputados Acrísio Sena, Moisés Braz e Fernando Santana, todos petistas. Para eles, Nelson Martins é quem reúne condições de unir a base.
Não falam apenas de PT, mas do bloco de sustentação de Camilo e RC.
Em resumo, foram gestos reiterados por palavras, cujo significado óbvio é: o governador tem um nome a propor não somente ao próprio partido. É Nelson.
Nesse ponto, entra um elemento importante no quadro: o silêncio do PDT. Ante essas manifestações e acenos tanto de Camilo quanto de seu entorno, nenhuma voz pedetista mais graduada se fez ouvir em assentimento, nem mesmo reservadamente, o que quer dizer muito.
Pelo contrário, o único trabalhista a quem ouvi, e ainda sob condição de anonimato, assegurou que o PDT não entrará nesse barco em hipótese alguma.
E disse mais: “A troco de que o PDT abriria mão (da cabeça da chapa) para o PT? Historicamente, o PDT em Fortaleza sempre deu mais sustentação política e eleitoral ao Camilo do que o PT. Basta lembrar que, na primeira campanha do Camilo, setores do próprio PT se alinharam com o Eunício Oliveira e fizeram campanha contra o governador”.
É uma avaliação fria do conjunto de variáveis que atravessam os interesses e cálculos do cenário político eleitoral em Fortaleza, mas leva em consideração um contexto já ultrapassado: 2012 e 2014, quando RC primeiro e Camilo depois concorreram e venceram, a despeito do PT.
Agora, há um elemento novo: o bolsonarismo. Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha dito que não apoiará postulantes em 2020, todos sabemos que os seus eleitores irão às urnas. Para votar em quem?
Existem opções, a principal delas o deputado federal Capitão Wagner (Pros), que vem mantendo conversas e atraindo partidos para o seu arco de alianças.
Mesmo chamuscado com a base de apoiadores de Bolsonaro, o pré-candidato ainda leva vantagem sobre outros possíveis nomes dentro do mesmo campo, como o empresário Geraldo Luciano (Novo), cuja candidatura está sempre cercada de um mistério sobre se se concretizará ou não, e o também deputado federal Heitor Freire, do PSL.
Caso consiga convencer Freire a não entrar a disputa para apoiá-lo, Wagner terá feito conseguido feito e tanto. Primeiro, assegurará musculatura à chapa, agregando recursos e, principalmente, tempo de TV e rádio.
Sem o PSL, Wagner estima que seu tempo de TV seja de 16% do total. Com o PSL, passaria a 26% - um ganho direto de 10%. É muita coisa.
Se houver entendimento, a composição provável é a dobradinha Wagner na cabeça e Freire de vice. Qual o impedimento para essa chapa?
Acertos internos (o PSL projeta um crescimento exponencial, segundo o próprio Heitor Freire) e a difícil relação interna do partido no Ceará, dividido entre o presidente e os deputados estaduais André Fernandes e Delegado Cavalcante, que representam a ala aliancista do bolsonarismo na Capital.
Difícil colocar esses personagens para sentarem na mesma mesa e discutirem – não apenas política, mas qualquer assunto. Apostar num consenso, então, é exercício de extremo otimismo.
A pergunta é: Wagner precisa fazê-los concordar entre si? Não. Basta mostrar-lhes que, se vencer e chegar a se tornar prefeito, todo o campo conservador vai ganhar no Ceará.
E os demais partidos e forças? Comento sobre MDB, PSB, PSDB e Cidadania na próxima segunda-feira, 15. Por ora, o que é possível dizer é que o MDB de Eunício segue dividido entre o apoio a um nome indicado pelo governador ou a candidatura própria.
Ex-presidente do Senado, Eunício já disse incontáveis vezes que estará ao lado de Camilo, seja para onde o chefe do Executivo apontar. Perguntado se está disposto a abrir mão da candidatura própria, falou nesta semana à coluna que “nada está 100% definido”.
O PSDB, como se sabe, confiou a Carlos Matos a tarefa de reposicionar a legenda na oposição em Fortaleza.
Até agora, porém, a sigla não tem demonstrado grande mobilização em torno do pré-candidato – uma impressão talvez agravada pelo quadro de pandemia, que limita a zero as interações entre candidatos e eleitores.
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