O que revelou o primeiro debate entre pré-candidatos do PDT em Fortaleza
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
A primeira da série de oito rodadas de debates com pré-candidatos do PDT à Prefeitura de Fortaleza evidenciou consensos e ajudou a contrastar métodos e discursos entre José Sarto, Ferruccio Feitosa, Idilvan Alencar, Samuel Dias e Salmito Filho.
Todos, por razões óbvias, partem de uma defesa aberta da gestão Roberto Cláudio (PDT), a quem concorrem para suceder. Mas fazem isso de maneira distinta. Ou empregam palavras que se destinam a públicos diferentes.
Tome-se o deputado federal Idilvan, por exemplo. Primeiro a expor sem rodeios a condição de pré-candidato, lançou-se desde o início com uma plataforma cujo principal ponto é o emprego. Ou seja, não apenas aceitou a condição, como também avançou e pensa um programa.
Sob os holofotes por causa da aprovação do Fundeb no dia anterior, uniu o útil ao agradável – à trajetória ligada à educação, soma-se o imperativo de pensar o pós-pandemia. E aí está o nervo exposto deste e dos próximos anos: desemprego. A pauta fala a público imenso.
Nisso o acompanharam os demais.
Já Ferruccio repassou a trajetória de gestor, no curso da qual exerceu posições de chefia na Secretaria Especial da Copa, na Adece e na Regional II, de onde saiu para se colocar como opção ao Paço.
Durante as quase duas horas de bate-papo mediado pela vice-governadora Izolda Cela, falou de obras na avenida Beira Mar e no morro de Santa Terezinha, mas também das areninhas, que teria ajudado a criar.
Ferruccio foi também o que se mostrou mais incisivo nas críticas ao Governo Federal, embora as menções a Jair Bolsonaro e a seus “clones”, como disse Samuel Dias, tenha sido uma constante e passeado na mesa.
Esse foi outro consenso entre os prefeituráveis pedetistas – a estratégia clara de pregar o rótulo de bolsonarista no principal nome da oposição, o deputado federal Capitão Wagner (Pros), alvo frequente de bombardeio mesmo sem ter sido citado uma única vez.
Parlamentares experientes que presidiram ou presidem o Legislativo, os deputados estaduais José Sarto e Salmito Filho convergiram em muitos aspectos, principalmente no que os diferencia – uma larga rodagem política, ausente na biografia dos demais colegas de bancada. Daí, quem sabe, o tom mais comedido.
Sobretudo Sarto, hoje no comando da Assembleia Legislativa, representa, na correlação de forças entre partidos da base de Camilo Santana (PT) e Roberto Cláudio, esse ponto de possível convergência. E isso se reflete nos gestos do parlamentar.
Dos cinco, a grande dúvida era sobre o desempenho de Samuel Dias, que, considerando-se a situação e a pressão natural que recai sobre quem está ali, saiu-se bem. Foi articulado ao projetar ações para o futuro da cidade e ganhos, segundo ele, da gestão que ora vai se encerrando e a qual, mais do que qualquer outro na roda, representa.
Se fosse possível resumir a participação de cada um, diria que Idilvan e Ferruccio foram mais assertivos, Sarto e Salmito, mais “low profile”, e Samuel, seguro, ainda que tenha admitido certo nervosismo.
Embora se trate de uma conversa e o espaço para dissensos seja limitado, já que os participantes integram todos o mesmo grupo político, o formato é interessante.
Ponto para o PDT, que fez de uma etapa intrapartidária, que normalmente interessa somente a filiados, um debate público, com o bônus da exposição dos potenciais concorrentes num cenário de restrição física por causa da pandemia do novo coronavírus.
Resta saber como evoluirão os encontros, já partir de amanhã, fechando a primeira de quatro semanas. Por enquanto, deu certo.
Mas será curioso ouvi-los sobre assuntos mais sensíveis para a gestão RC, como meio ambiente. O que pensam sobre a questão Sabiaguaba?
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