Ministério Público abre investigação para apurar suposta compra de apoio por deputado cearense
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) abriu investigação para apurar suposta compra de apoio político pelo deputado estadual Bruno Gonçalves, do PL. O processo tramita sob sigilo.
Áudio vazado nessa quinta-feira (23) mostra diálogo no qual o parlamentar cearense conversa com o pré-candidato a vereador em Fortaleza, Maninho Palhano, e lhe oferece dinheiro para ingressar no PL, da base do prefeito Roberto Cláudio (PDT).
“Por isso aqui tu ficaria com a gente?”, Gonçalves se dirige a Palhano. “Vamos fechar nisso aqui?”.
Noutro trecho, o deputado cita um valor entre R$ 150 mil e R$ 250 mil à disposição caso o pré-candidato, à época no PPL e hoje no Pros, se filiasse ao PL.
“Eu arrumo, nem que seja do Fundo Partidário”, promete o liberal, que é filho do prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves, presidente do PL no Ceará.
Em nota enviada à coluna, o MPCE informou que “tomou conhecimento do referido áudio e já abriu procedimento para investigação”.
Ainda segundo a instituição, “os trabalhos estão em fase inicial e o caso encontra-se em sigilo”.
Na mesma conversa, Gonçalves fala: “Eu acho que vou pedir a ele (Roberto Cláudio) em torno de R$ 2,5 milhões”. Em seguida, diz que, “da outra vez, ele deu R$ 1,2 milhão na eleição passada”, referindo-se ao pleito de 2016.
O parlamentar narra ainda que “essa estrutura aqui é responsabilidade minha”.
“Eu me responsabilizo por essa estrutura”, prossegue. “Se não vier dele (do prefeito), vem de mim.”
O POVO conversou com Maninho Palhano, que confirmou o encontro com o deputado Bruno Gonçalves e a oferta de dinheiro em troca de apoio na disputa.
Palhano contou que a reunião com o parlamentar foi realizada em março deste ano, pouco antes do fim da janela partidária, no gabinete de Gonçalves na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE).
“A iniciativa partiu dele, eles me chamaram para conversar”, relata.
O pré-candidato acrescenta que o deputado “foi claro na conversa” e que o objetivo era “ajudar o sucessor do prefeito” e a reeleição da mãe de Gonçalves, a vereadora licenciada e ex-coordenadora especial de Política sobre Drogas da Prefeitura de Fortaleza, Marta Gonçalves.
“É uma grana boa que, se o cabra não tiver cabeça, pula em cima”, reflete Palhano.
O pré-candidato afirma também que já prestou quatro depoimentos ao MPCE, três pessoalmente e um virtual, dentro de caso relacionado ao do deputado.
A última audiência teria sido em maio, virtualmente, por causa da pandemia do novo coronavírus. Nela, Palhano mostrou o áudio captado do diálogo com Gonçalves.
A coluna entrou em contato com o deputado Bruno Gonçalves e lhe encaminhou perguntas sobre as acusações de oferta de verba em troca de apoio. O parlamentar ainda não respondeu.
A Prefeitura de Fortaleza também foi procurada, mas não deu retorno até agora.
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