O que significa a entrada de Bolsonaro nas eleições de Fortaleza
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entrou na disputa pela Prefeitura de Fortaleza. Sua declaração de apoio a Capitão Wagner (Pros), a quem chamou apenas de “Capitão”, nacionaliza de vez um pleito que já tinha fortes componentes extra-locais, como a presença dos irmãos Cid e Ciro Gomes, ambos do PDT.
Derrotá-los, portanto, agora é parte do projeto de Bolsonaro, cujos principais apoiadores na capital cearense são também anti-ciristas, como o próprio Wagner, Delegado Cavalcante (PSL) e André Fernandes (Republicanos).
A pergunta que se faz é: Wagner ganha ou perde com a adesão declarada de Bolsonaro? É possível que um pouco de cada.
Candidato ao Paço pela segunda vez, o deputado federal fez um trabalho persistente para se descolar da agenda de segurança. Hoje, sua agenda inclui saúde, cultura, emprego e lazer.
Entre os parlamentares cearenses do “centrão”, foi também o que menos acompanhou a pauta do Governo Federal na Câmara. Na votação da reforma da Previdência, por exemplo, foi contra. Nesses dois anos desde que se elegeu deputado e Bolsonaro presidente, manteve uma distância precavida do chefe do Executivo.
Embora as forças bolsonaristas convirjam para o seu nome na cidade, Wagner fez poucos movimentos enfáticos para atraí-las. Deixou-se fotografar com Carla Zambelli (PSL) e reuniu-se com Fernandes, inimigo do também concorrente Heitor Freire (PSL), a quem Bolsonaro xinga de “cara de pau” no mesmo vídeo em que anuncia apoio ao representante do Pros.
Fora isso, os grupos conservadores aterrissaram em sua campanha por força gravitacional e por entender que o candidato é o caminho mais rápido para derrotar os Ferreira Gomes no Ceará. Pensam em 2020, mas também em 2022, quando o próprio presidente estará no ringue para a reeleição.
Mas Wagner também arrisca perder exatamente porque o apoio presidencial o carimba com a marca de Bolsonaro, que já havia antecipado primeiro que não encamparia ninguém e, depois, que apoiaria poucos nomes. O capitão é um deles.
Numa cidade como a Capital, onde o então candidato Bolsonaro sequer teria ido ao segundo turno, esse carimbo pode eventualmente se transformar em fardo. Vai depender de como Wagner lide com essa declaração e de como o eleitor o veja.
Para seus adversários, principalmente José Sarto (PDT) e Luizianne Lins (PT), a tarefa de ligar Wagner a Bolsonaro fica mais fácil a partir deste momento. Eles o farão?
Afinal, se Bolsonaro era impopular em Fortaleza em 2018, a situação hoje é diferente. Embalado no auxílio emergencial, o presidente cresceu, principalmente no Nordeste. Logo, vincular Wagner ao presidente pode se voltar contra quem adotar essa estratégia como arma.
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