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Análise | Sem Bolsonaro, mas com bolsonarismo
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Análise | Sem Bolsonaro, mas com bolsonarismo

Professor e pesquisador, Emanuel Freitas analisa dados da pesquisa Ibope sobre a corrida eleitoral em Fortaleza
Tipo Análise
 Capitão Wagner apoiou Bolsonaro em 2018: papéis se invertem (Foto: REPRODUÇÃO/FACEBOOK
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Foto: REPRODUÇÃO/FACEBOOK  Capitão Wagner apoiou Bolsonaro em 2018: papéis se invertem

A nova rodada de pesquisa de intenção de voto à Prefeitura de Fortaleza realizada pelo Ibope, e divulgada na última terça-feira (3/11), trouxe uma questão digna de nota: Bolsonaro parece ser persona non grata na cidade e, por isso mesmo, não “deu as caras” no pleito por parte de seu apoiado, o candidato Capitão Wagner (Pros).

Se juntarmos os dados da pesquisa que mostram os que consideram a gestão do presidente como “ruim” e “péssima”, temos nada menos que 49% dos entrevistados. Quase a metade da amostra. Talvez esteja aí a chave explicativa para o quase-nenhum uso que Wagner tem feito do apoio do presidente à sua candidatura, preferindo falar, como temos visto nos últimos dias, em “parcerias com o governo federal”, ao se referir aos recursos. Bem, o eleitor deve saber que tais recursos são garantidos constitucionalmente, não de parcerias com o presidente. Não estamos mais no tempo de Maria Luiza, não é?

Mas, outro dado mais importante nos dá mostra da ausência do presidente na disputa: enquanto 37% dos entrevistados dizem que Wagner é o apoiado de Jair, nada menos que 55% não sabem quem o presidente apoia. Mais da metade. À que se deve isso? Dois motivos: 1-Wagner esconde-o, apesar de ter o bolsonarismo da capital todo em sua campanha (desde os ideais, como a proposta de escolas cívico-militares até às lideranças mais fiéis ao presidente na cidade, o que bastaria para seus adversários explorarem seu comprometimento com a “coisa”); 2- o fato de seus principais adversários, Sarto (PDT) e Luizianne (PT) não estarem mostrando ao eleitor que Wagner é o candidato do presidente (em vez disso, Sarto tem preferido descontruir a ex-prefeita e esta, em sua resposta, tem preferido contra-atacar o “candidato dos Ferreira Gomes”, frase que une-a aos bolsonaristas).

Estamos a pouco mais de uma semana do pleito, e metade dos entrevistados ainda não sabem a quem o presidente apoia. Um total de 65% sabe que Sarto é apoiado por Ciro, dando mostras da efetividade do discurso dos outros candidatos ao “acusarem-no” de ser o candidato dos FG”.

Se Wagner não se tem mostrado como o apoiado, uma série de candidatos à Câmara Municipal têm usado e abusado do apoio do presidente, de seus filhos, de ministros e de importantes nomes do bolsonarismo para se legitimarem. Assim, mesmo que o candidato Wagner não seja eleito, teremos uma Câmara com presença do bolsonarismo, já com vistas a 2022.

Passa da hora, pois, de os adversários do Capitão nacionalizarem a disputa. Ou não?

Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

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