Logo O POVO+
Análise | A derrota de Trump e o recado a Bolsonaro
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Análise | A derrota de Trump e o recado a Bolsonaro

Tipo Análise
(Nova York - EUA, 24/09/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro, recebe os cumprimentos do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. .Foto: Alan Santos/Presidência da República (Foto: Alan Santos/Presidência da República)
Foto: Alan Santos/Presidência da República (Nova York - EUA, 24/09/2019) Presidente da República, Jair Bolsonaro, recebe os cumprimentos do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. .Foto: Alan Santos/Presidência da República

A vitória do democrata Joe Biden está repleta de simbologias. Da primeira mulher a se eleger vice-presidente na história dos EUA (Kamala Harris) ao recado expresso dado a populistas e autoritários do mundo inteiro, aponta para novo cenário: o da volta da política.

A chegada de Donald Trump ao poder em 2016 representou a escalada de um discurso que esvazia a institucionalidade, demole pontes e inviabiliza consensos mínimos, quando não ataca diretamente as regras do jogo democrático. Sob a gestão do magnata, não prosperava essa noção de negociação, tão cara à democracia.

Moderado, Biden repõe essa capacidade de diálogo no centro da atividade política. É, sob esse ponto de vista, uma resposta enfática ao risco de falência das sociedades comandadas por líderes de pouco ou nenhum apreço ao decoro e ao cumprimento de acordos.

Para o Brasil, a derrota de Trump acarreta outros sentidos além de potenciais mudanças nas políticas externa e ambiental ou efeitos econômicos. Diz respeito a 2022.

Trump era uma bússola ideológica dos bolsonaristas, que replicavam tal e qual as respostas do presidente estrangeiro a problemas domésticos. Sem Trump, o bolsonarismo está sem norte, acéfalo. Filipe G. Martins e Ernesto Araújo, órfãos desde agora, não terão a quem macaquear, e o boné usado por Eduardo Bolsonaro de apoio a Trump soará extravagante.

Pergunta de um milhão: esse revés pode ter impacto nas próximas eleições presidenciais do Brasil? Certamente. É suficiente para derrotar ou dificultar a reeleição de Bolsonaro? Difícil saber a dois anos da eleição.

Primeiro, Bolsonaro terá o que Trump não teve: tempo para se recuperar. O presidente dos EUA foi atropelado pela pandemia de Covid-19, enquanto Bolsonaro melhorou sua popularidade a despeito de sua condução criminosa da crise sanitária. Logo, nem tudo é assim tão cartesiano.

Porém, se se considera que o fracasso de Trump é sinal de um cansaço global diante da mentira, do radicalismo, da xenofobia e do sectarismo, é possível imaginar que Bolsonaro possa ter o mesmo fim que o colega norte-americano.

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?