Eleições 2020: a coalização de Sarto e os trunfos de Wagner
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Apenas três dias se passaram desde o domingo de votação, 15/11, após o qual José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (Pros) avançaram ao segundo turno. De lá para cá, no entanto, a campanha do pedetista acumulou adesões e sinalizações positivas.
Ao todo, sete partidos se somaram ao PDT, segundo contagem do repórter Carlos Holanda, do O POVO. Parte desse cenário era previsível. Afinal, Wagner representa candidatura de um polo antagônico ao da maior parte dos nomes que concorreram ao Paço no primeiro turno em Fortaleza.
Dos dez postulantes, quatro eram declaradamente de esquerda: PT, Psol, UP e PCdoB. E um de centro-esquerda ou centro, como se queira, que é o PDT.
Restavam cinco, dos quais dois eram PSL e Pros, os únicos assumidamente de direita, mas rompidos e em disputa na base conservadora. Os demais (SD, PV e Patriota) podiam oscilar favoravelmente tanto a um quanto a outro, a depender das circunstâncias. E, como as circunstâncias parecem melhores para Sarto, embarcaram na nau trabalhista.
Logo, esse quadro dominado por legendas de centro e de esquerda naturalmente favoreceria o nome do PDT. Obviamente que Wagner sabia que enfrentaria uma coalização caso fosse ao segundo turno.
Reconhecida essa combinação adversa de fatores, o que planeja a campanha do Pros? Coordenador e senador pelo Podemos, Eduardo Girão antecipou boa parte da estratégia ao O POVO ontem e em coletiva de imprensa nesta quarta. Em princípio, aproveitar os debates, cerca de quatro ou cinco, para contrastar as trajetórias de Sarto e Wagner. O parlamentar aposta as fichas em que o eleitor levará em conta as biografias e o histórico de cada um dos prefeituráveis, comparando-os e eventualmente decidindo a favor do republicano.
Outra frente da estratégia é disputar o eleitorado dos partidos, a despeito do que tenham decidido suas cúpulas. É uma decisão prudente, sobretudo quando não há tantas alternativas à mesa e num país no qual a fidelidade e coesão ideológico-partidários têm a consistência de gelatina.
Terceiro, reforçar a lembrança das críticas mais duras do PDT à candidatura da petista Luizianne Lins no primeiro turno, de modo a sensibilizar eleitores da legenda a não aderir a Sarto. É tarefa difícil, mas não custa tentar e procurar aquele segmento de eleitores, se existe, para o qual o sentimento anti-Ferreira Gomes supera o anti-Bolsonaro.
Finalmente, Girão pretende explorar temas controversos que possam embaraçar o representante pedetista, como têm repetido aliados de Wagner referindo-se ao caso dos respiradores, JBS e outros. A desvantagem é que todos esses assuntos já estavam presentes no primeiro turno, não sendo propriamente novidades. A vantagem é que Sarto ainda não foi obrigado a responder diretamente sobre eles.
Como não se ganha eleição de véspera, tampouco se perde, é arriscado fazer previsões a esta altura, embora o pleito se encerre dentro de pouco mais de dez dias. O horizonte imediato do Pros é de dificuldades, não há dúvida. E isso também não era surpresa para Wagner, que sabia o que teria pela frente quando se candidatou.
Para superar a vantagem do adversário, numérica (com base no resultado do primeiro turno) e simbólica (os múltiplos apoios vão parar na propaganda e da propaganda na cabeça do eleitor), o deputado federal tem de produzir fato político à altura do que vimos repetir-se do lado pedetista.
Ou isso, ou contar com um desempenho entre o pífio e o desastroso de Sarto nos debates, a ponto de fazer o eleitor mudar de ideia.
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