Lula fala como candidato, assume liderança da oposição e se apresenta como contraponto a Bolsonaro
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Em discurso de quase uma hora, o primeiro depois de recuperar seus direitos políticos após anulação de suas condenações no Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Lula falou como candidato, assumiu papel de liderança nacional e vestiu de vez o figurino de contraponto a Jair Bolsonaro (sem partido).
Nesse roteiro, que começou com críticas à Lava Jato e elogios a Edson Fachin, o petista fez acenos ao empresariado e a governadores, com destaque para gestores estaduais do Nordeste, entre eles Camilo Santana, do Ceará.
O ex-presidente defendeu a vacinação, disse que o país não tem governo, solidarizou-se com vítimas da Covid-19, citou lideranças internacionais que o apoiaram e relembrou candidatura de 2002, na qual dividiu chapa com o então empresário José Alencar.
Entre uma e outra coisa, Lula atacou as principais debilidades de Bolsonaro como presidente: má gestão da crise na saúde, ideário armamentista e relações com grupos milicianos.
Sobre o militar da reserva, criticou: “Não sigam nenhuma decisão imbecil do presidente ou do ministro da Saúde. Tomem vacina”.
O discurso, portanto, tinha quatro alvos: o eleitorado amplo, não apenas alinhado com a esquerda ou o campo progressista – houve inúmeras referências ao desemprego e a outros problemas do dia a dia de qualquer brasileiro
O segundo foi o próprio Bolsonaro, endereço de boa parte das críticas de Lula (“esse país tinha um projeto de nação, o que esse país tem hoje?"), estratégia que se combina com os planos do PT de polarizar desde já com o presidente – o próprio tema da polarização foi objeto de comentário por Lula.
O terceiro foi o mercado/empresariado. A respeito disso, uma frase do ex-presidente é simbólica, quase uma segunda carta ao povo brasileiro: “Não tenham medo de mim. Sou radical porque quero ajudar a construir um mundo justo”.
E o quarto é o espectro de partidos que vai do centro à direita. A citação ao ex-vice-presidente Alencar não foi casual. Lula pretende, ou deu mostras do que tem em mente, reeditar eventual parceria com nome do mercado/empresariado para 2022.
Para derrotar Bolsonaro, o petista sabe que não pode se circunscrever à esquerda. Precisa alargar esse território, tanto para se viabilizar eleitoralmente – tempo, recursos e robustez. Quanto para desarmar a retórica já empregada por críticos segundo a qual o petista representa o radicalismo.
Por isso a ênfase de Lula no desenvolvimento econômico, no emprego, no auxílio, na vacina, na saúde e no respeito internacional.
Numa mesma fala, o ex-presidente comunicou-se com setor produtivo, população, campos políticos à direita e à esquerda e com um eleitorado que aderiu a Bolsonaro em 2018, mas que apoiara Dilma Rousseff quatro anos antes.
Agora pleno de direitos políticos, Lula fez seu primeiro movimento rumo à disputa de 2022. É o bastante para precipitar a corrida eleitoral e mexer com outros atores, tais como Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Luciano Huck (sem partido).
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.