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Lula fala como candidato, assume liderança da oposição e se apresenta como contraponto a Bolsonaro
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Lula fala como candidato, assume liderança da oposição e se apresenta como contraponto a Bolsonaro

Tipo Análise
Lula volta ao jogo político após condenações contra ele terem sido anuladas (Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP)
Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP Lula volta ao jogo político após condenações contra ele terem sido anuladas

Em discurso de quase uma hora, o primeiro depois de recuperar seus direitos políticos após anulação de suas condenações no Supremo Tribunal Federal, o ex-presidente Lula falou como candidato, assumiu papel de liderança nacional e vestiu de vez o figurino de contraponto a Jair Bolsonaro (sem partido).

Nesse roteiro, que começou com críticas à Lava Jato e elogios a Edson Fachin, o petista fez acenos ao empresariado e a governadores, com destaque para gestores estaduais do Nordeste, entre eles Camilo Santana, do Ceará.

O ex-presidente defendeu a vacinação, disse que o país não tem governo, solidarizou-se com vítimas da Covid-19, citou lideranças internacionais que o apoiaram e relembrou candidatura de 2002, na qual dividiu chapa com o então empresário José Alencar.

Entre uma e outra coisa, Lula atacou as principais debilidades de Bolsonaro como presidente: má gestão da crise na saúde, ideário armamentista e relações com grupos milicianos.

Sobre o militar da reserva, criticou: “Não sigam nenhuma decisão imbecil do presidente ou do ministro da Saúde. Tomem vacina”.

O discurso, portanto, tinha quatro alvos: o eleitorado amplo, não apenas alinhado com a esquerda ou o campo progressista – houve inúmeras referências ao desemprego e a outros problemas do dia a dia de qualquer brasileiro

O segundo foi o próprio Bolsonaro, endereço de boa parte das críticas de Lula (“esse país tinha um projeto de nação, o que esse país tem hoje?"), estratégia que se combina com os planos do PT de polarizar desde já com o presidente – o próprio tema da polarização foi objeto de comentário por Lula.

O terceiro foi o mercado/empresariado. A respeito disso, uma frase do ex-presidente é simbólica, quase uma segunda carta ao povo brasileiro: “Não tenham medo de mim. Sou radical porque quero ajudar a construir um mundo justo”.

E o quarto é o espectro de partidos que vai do centro à direita. A citação ao ex-vice-presidente Alencar não foi casual. Lula pretende, ou deu mostras do que tem em mente, reeditar eventual parceria com nome do mercado/empresariado para 2022.

Para derrotar Bolsonaro, o petista sabe que não pode se circunscrever à esquerda. Precisa alargar esse território, tanto para se viabilizar eleitoralmente – tempo, recursos e robustez. Quanto para desarmar a retórica já empregada por críticos segundo a qual o petista representa o radicalismo.

Por isso a ênfase de Lula no desenvolvimento econômico, no emprego, no auxílio, na vacina, na saúde e no respeito internacional.

Numa mesma fala, o ex-presidente comunicou-se com setor produtivo, população, campos políticos à direita e à esquerda e com um eleitorado que aderiu a Bolsonaro em 2018, mas que apoiara Dilma Rousseff quatro anos antes.

Agora pleno de direitos políticos, Lula fez seu primeiro movimento rumo à disputa de 2022. É o bastante para precipitar a corrida eleitoral e mexer com outros atores, tais como Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB) e Luciano Huck (sem partido).

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