Logo O POVO+
Pazuello e a "missão cumprida" do general
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Pazuello e a "missão cumprida" do general

Tipo Análise
Ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, na CPI da Covid (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado Ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, na CPI da Covid

Em que outro lugar do mundo um ex-ministro da Saúde diria que sua missão foi cumprida se, entre o ato de assumir e o de deixar a pasta que comandou por dez meses, o número de mortos por uma doença houvesse passado de 15 mil para 280 mil?

Esse é Eduardo Pazuello, general da ativa escalado por Jair Bolsonaro para levar a cabo o plano que seus antecessores no cargo haviam se negado a fazer: uma catequese da cloroquina. O militar foi peça vital na engrenagem de produção e distribuição de um medicamento comprovadamente ineficaz para uma enfermidade cuja vacina já existia, mas que foi reiteradamente negligenciada pelo Governo.

Pazuello não idealizou, mas foi executor do plano. Para tanto, reúne os atributos necessário: é subserviente, supõe-se inteligente e vaidoso. À CPI da Covid, deu mostras de sabujice ao livrar Bolsonaro seguidamente enquanto se embananava para confirmar factualmente aquilo que declarava.

Suas falas não resistiam a uma mera consulta seja a reportagens, seja a documentos obtidos pelos próprios senadores. Apanhado no erro, pedia escusas pelo equívoco, ecoando um expediente notabilizado por outro ex-ministro atirado ao fogo pelo presidente.

Nas quase seis ou sete horas de depoimento no Senado, o ex-ministro quis negar a verdade cristalina, reafirmada por ex-colegas de pasta, segundo a qual Bolsonaro interferiu nos rumos do ministério para emplacar duas teses: a da imunidade de rebanho e a da cloroquina, responsáveis pela mortandade na pandemia.

Nessa empreitada, o militar, cioso de suas pretensas capacidades logísticas, cercou-se de um marqueteiro e hipnólogo conhecido como Marquinhos "Show" (sic) e de um empresário com cara de vilão de filme da Disney e cujo sobrenome empresta a um famoso cursinho de inglês.

Não satisfeito, escalou uma médica para Manaus no pior momento da crise na cidade, que definhava sem oxigênio, a fim de testar um aplicativo que receitava medicação sem eficácia até para bebês.

Pazuello, que chegou à Saúde sem o pudor de admitir que não sabia o que era o SUS e que, nesse período, confundiu o Amazonas com o Amapá ao enviar doses de vacinas, orgulha-se do seu legado à frente do ministério, embora não se saiba qual, exceto se se considerar a recusa a compra de imunizantes e a bajulação.

Porque, de tudo que se viu e ouviu ontem na CPI, não se extrai outra coisa de seu depoimento senão o fato de que o militar, mesmo agora, não admite que, tal qual o burocrata do mal descrito por Hannah Arendt, trabalhou pela morte e não pela vida. Se essa era a missão, ela foi cumprida plenamente pelo ex-ministro.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente
Foto: Agência Brasil
Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente

Ricardo Salles na berlinda

Um dia depois de o próprio Eduardo Pazuello se tornar alvo de investigação no caso de suspeita de contratos do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro, ontem foi a vez de Ricardo Salles cair na malha fina da Polícia Federal.

O ministro Salles, aquele da boiada, é suspeito de haver favorecido um esquema de corrupção para exportação ilegal de madeira. Além dele, o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, também é apontado como possível pivô de contrabando de produtos florestais.

Essa é a cúpula do Meio Ambiente sob Bolsonaro, aquele que dizia que a mamata tinha acabado e que não havia corrupção em seu governo.

 

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?