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Críticas de Ciro a Lula e Dilma e o silêncio do PT no Ceará
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Críticas de Ciro a Lula e Dilma e o silêncio do PT no Ceará

Críticas de Ciro a Lula e Dilma não inviabilizam aliança entre PDT e PT no Ceará, mas tumultuam escolha do sucessor de Camilo Santana
Ciro Gomes, Lula e Camilo Santana, em um passado que começa 
a ficar distante (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula Ciro Gomes, Lula e Camilo Santana, em um passado que começa a ficar distante

Pré-candidato ao Planalto, Ciro Gomes (PDT) é crítico contumaz do ex-presidente Lula, nisso não há novidade. O fato inédito talvez tenha sido a gradação, o ponto a que chegou a diatribe alimentada sobretudo nas redes e unilateralmente, já que o petista tem resistido a responder ao ex-ministro.

Ao chamar Lula de conspirador e Dilma de “uma das pessoas mais incompetentes, inapetentes e presunçosas que já passaram pela presidência”, Ciro dá um passo adiante na já tensa relação. Eleva mais o tom, a ponto de inviabilizar qualquer acerto futuro em 2022, e não me refiro apenas ao plano nacional.

Ciro nunca fala sozinho. Há um grupo por trás, do qual fazem parte o governador do Estado, Camilo Santana (PT), e os irmãos Cid e Ivo, que quase sempre o acompanham, se não na virulência, ao menos no teor – às vezes em ambos.

Dentro do PT, há quem coloque panos quentes em toda essa querela pré-eleitoral, separando Ciro, de um lado, seguindo lógica própria na briga para se viabilizar e furar a polarização Lula/Bolsonaro – e, nesse âmbito, preferem manter-se de boca fechada e não cair no “bait”.

E, de outro, o cenário local, onde PT e PDT são aliados e caminham juntos para mais uma eleição, ressalvadas as movimentações internas por candidatura própria tratadas como teses minoritárias, embora postuladas por dois dos três deputados federais do partido na Câmara.

Ocorre que, mesmo entendendo que de fato disputas presidenciais e estaduais são regidas por dinâmicas particulares, que oscilam segundo humores diferentes, essas realidades nunca são estanques. Os quadros se contaminam e, a depender da intensidade e das forças envolvidas, se degradam mutuamente.

É possível que a contundência das declarações de Ciro azede a relação entre PDT e PT de tal maneira que os acertos locais já previamente encaminhados se desmantelem? Difícil, mas, na política, sabe-se bem que os horizontes são largos e o céu, vário.

PT e PDT podem não romper, o que seria uma solução drástica e que iria contrariar muitos interesses, pessoais e coletivos. É mais do feitio chegarem em aparência unidos a 2022, mas separados de fato. E que o processo de escolha do sucessor ou da sucessora de Camilo se torne mais acidentado.

A preço de hoje, os pedetistas dispõem publicamente de quatro nomes: Izolda Cela, a vice-governadora; Roberto Cláudio, o ex-prefeito; Mauro Filho, o secretário de Estado; e Evandro Leitão, o presidente da AL-CE.

Do quarteto, quem é o mais umbilicalmente ligado ao Ciro, aquele cuja imagem é indissociável da dos irmãos Ferreira Gomes? Se a intenção é contar com apoio do PT numa chapa conjunta, risque-se este nome de saída. Qualquer hipótese de entendimento com o partido vai se dar entre os que ficarem.

Isso se a retórica cirista não dinamitar de todo as pontes que ainda existem entre as duas forças políticas, que vêm se alternando no comando do Ceará desde 2006 – primeiro com Cid, por oito anos, e agora com Camilo, por mais oito.

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