Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Foto: Aurelio Alves
Ciro Gomes, presidenciável pelo PDT
A esta altura, é mais do que clara a estratégia de Ciro Gomes (PDT) para chegar ao segundo turno de 2022. Ao investir tempo e energia (e recursos do fundo partidário para bancar João Santana) nas críticas ao ex-presidente Lula (PT), o pré-candidato tenta se mostrar como o nome que pode batê-lo sem que o país tenha de amargar mais quatro anos de Jair Bolsonaro (sem partido).
É o tipo do plano que, se der certo, os puxa-sacos dirão que é coisa de gênio, mas, caso fracasse, vão advertir: eu avisei. Vendo a arenga de longe, é difícil crer que o pedetista, ex-ministro do petista e muito ligado a certo campo de centro-esquerda, possa arrebatar votos de descontentes/desiludidos com o presidente - cuja reprovação, não custa lembrar, caiu cinco pontos na última pesquisa PoderData, passando de 63% para 58%.
Por enquanto, a tática não se refletiu nos índices de Ciro, que se mantém no mesmo patamar, mas as eleições estão marcadas apenas para outubro do ano que vem. Até lá, não se culpe o postulante de não tentar. Está no seu direito.
É possível, no entanto, arguir a eficácia das escolhas do trabalhista, ora tendendo a um armistício anunciado aos quatro ventos, ora redobrando a beligerância dos ataques, concentrados incialmente em Lula e agora incluindo também Dilma Rousseff, numa sucessão de movimentos que soam descoordenados, embora sejam regidos, creio eu, não só por certo gosto pelo enfrentamento franco ou por seu temperamento mercurial. Há método nisso, é o que posso imaginar.
O vídeo divulgado ontem por Ciro talvez explique melhor. Nele, o pré-candidato não fala de improviso. Pelo contrário, faz uma leitura estudada e metódica de um plano de ataque no qual repisa avaliações e deixa escapar que o PT "é um deserto de lideranças", declaração que ficou sem réplica. Afinal, não se ouviu um pio de petistas, aqui e alhures, para contestá-lo.
E esse é outro aspecto curioso do pugilato envolvendo PDT e PT. Assistindo à briga de uma arquibancada no Ceará, é como se tudo se passasse noutro planeta, num tempo futuro ou pretérito, cujos lances não dizem respeito a nenhum dos atores locais, que seguem tocando a vida a despeito da batalha campal em que se transformou a relação entre os dois partidos.
É engraçado esse corte pragmático que se estabelece entre o que é da esfera nacional e o que é da estadual, não havendo entre elas qualquer comunicação, qualquer contaminação. Ao menos é isso que tentam fazer crer os partidários do "deixa-disso". Nos bastidores, sabe-se que o ambiente avinagrou ainda mais e que, se não há risco de rompimento no horizonte mais imediato, tampouco há céu de brigadeiro.
Como os aliados no Ceará chegarão a 2022 caso Ciro siga com o dedo no gatilho? É algo que estou esperando para ver.
Funsaúde
O Governo do Estado enviou à Assembleia Legislativa (AL-CE) projeto que altera diretrizes de funcionamento da Fundação Regional de Saúde (Funsaúde). Já seria estranho movimento assim às vésperas de concurso para o preenchimento de 6 mil vagas no órgão. Fazê-lo com urgência, porém, deixa uma pulga atrás da orelha.
Afinal, se a proposta do Abolição não afeta o número de vagas do certame, se não o reduz nem amplia, por que votar um projeto às pressas? Por que uma proposta que altera significativamente a natureza da Funsaúde não está sendo discutida como deveria?
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