Ensino domiciliar: mais um despropósito bolsonarista
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Ensino domiciliar: mais um despropósito bolsonarista
O projeto que regulamenta o ensino domiciliar no Brasil, o chamado "homeschooling", é uma síntese do governo federal na área da educação: despropositado e irrelevante
O projeto que regulamenta o ensino domiciliar no Brasil, o chamado "homeschooling", é uma síntese do governo federal na área da educação: despropositado e irrelevante.
Depois da troca de três ministros e de uma pandemia de Covid que causou um terremoto no sistema educacional global, com impactos ainda por serem mensurados, era de se supor que o Ministério da Educação apresentasse um plano, ainda que modesto, de compensação das defasagens entre os estudantes brasileiros.
Mas nem o MEC cumpre seu papel como deveria, tampouco o presidente Bolsonaro está minimamente preocupado com o que é assunto sério. Interessam-lhe as miudezas, passeios de barco e lancha, diatribes fabricadas contra as instituições etc.
Daí que, como gesto em fim de mandato e já em plena campanha pela reeleição, tenha feito aprovar na Câmara, a toque de caixa e com a ajuda da bancada do orçamento secreto, uma medida cujo efeito é o de escancarado retrocesso, bem ao gosto de seus aliados.
Mas talvez esse seja o seu objetivo, ou seja, operar o desmonte daquilo que, com Bolsonaro, esteve sob ataque permanente: a escola e professor. Não há dúvida de que o propósito do texto, que vai agora para o Senado, é minar progressivamente as bases de uma educação fundada na diversidade, no contato com o outro, na troca de experiências que enriquece o aprendizado e dentro da qual se aperfeiçoam os processos pedagógicos.
Esses são, na verdade, os motivos pelos quais alguns pais não querem que seus filhos estejam na escola, um ambiente sobre o qual elaboram teorias miraculosas do mesmo teor de uma desvairada ameaça comunista, o tipo de fake news cuja disseminação é mais fácil quando não há exposição ao contraditório.
O projeto de educação domiciliar é, nesse sentido, um autêntico item dessa agenda, seja por seu conteúdo obscurantista, seja por desviar-nos do que é crucial no debate sobre os desafios da educação.
Quase quatro anos depois de eleito, e sem nada a mostrar nesse campo que não um mal-arranjado engodo ideológico, é apenas isso que o presidente tem a legar: uma gaveta vazia de propostas e um MEC que é terreno fértil para o atraso.
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