Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
A palavra de Rosa já alertava para o esgotamento do capitalismo e a deterioração do planeta, já advertia para o impasse climático e a insuficiência da conciliação política que os governos de Fernando Henrique e Lula levariam a cabo
O tempo de Rosa da Fonseca era o porvir, um amanhã que parecia sempre utopia para quem entrava na universidade nos idos dos anos 2000, embora, na prática, suas ações se situassem no solo do presente e dele não arredassem pé.
Habituado a ler nos muros da cidade a mensagem política do grupo Crítica Radical, do qual Rosa fazia parte e ao qual conferia um rosto, vê-la de perto era um enigma: ali está a mulher cujo horizonte de atuação se deslocava em muitas temporalidades diferentes, em gestos e frases que tentavam alargar uma compreensão do agora, ajudando a elucidá-lo.
A palavra de Rosa já alertava para o esgotamento do capitalismo e a deterioração do planeta, já advertia para o impasse climático e a insuficiência da conciliação política que os governos de Fernando Henrique e Lula levariam a cabo na esteira da redemocratização. Não era premonitória, mas lúcida.
Rosa, por tudo que viveu, com uma história de violência marcada no corpo, poderia ter se deixado ficar no passado ao qual resistiu como militante durante a ditadura, que a torturou e a seus companheiros e companheiras de batalha.
Mas, e esse era o motor de sua revolução, Rosa vivia o tempo de amanhã, a que cabia a cada um viver, com olhos mirados no hoje, do qual não abria mão mesmo nos momentos derradeiros, como quando gravou um vídeo para, mais uma vez, deixar enunciada a sua crítica.
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