O que revela o duplo movimento de PDT e PT no Ceará
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
O que revela o duplo movimento de PDT e PT no Ceará
Com a conversa de hoje, Ciro reagrupa o time em torno da plataforma que apresenta para a disputa nacional, carro-chefe da campanha do PDT não apenas no âmbito federal, mas também nos estados
Uma operação conjunta foi deflagrada no governismo cearense nesta terça-feira (28) para apagar o incêndio no condomínio aliancista.
Um primeiro movimento – interno, mas com reflexos externos – teve como pivô o pré-candidato ao Planalto Ciro Gomes (PDT), que reuniu potenciais nomes pedetistas ao Abolição para uma conversa tête-à-tête a fim de aparar arestas e neutralizar qualquer possibilidade de que o palanque trabalhista no Ceará seja também lulista.
Esse primeiro gesto, que reforça a primazia cirista local, é desdobramento de um anterior, materializado nas duas notas emitidas pelas bancadas estadual e federal do PDT e cujo lead era o apoio dos parlamentares à candidatura de Ciro à Presidência, fato que, a esta altura, deveria ser dado como coisa natural, vez que se trata de correligionários.
Com a conversa de hoje, Ciro reagrupa o time em torno da plataforma que apresenta para a disputa nacional, carro-chefe da campanha do PDT não apenas no âmbito federal, mas também nos estados.
O segundo movimento, correlato ao primeiro, foi a conversa entre os deputados federais André Figueiredo (PDT) e José Guimarães (PT). Ambos lideranças de envergadura e que falam por seus partidos, não estavam ali para meramente trocar achismos a respeito da disputa eleitoral no estado, mas para colocar os pingos nos “is” e endereçar um sinal de bandeira branca na aliança.
Juntos, os dois episódios pretendem funcionar como um freio de arrumação no bloco, recolocando os termos da conversa em níveis mais amistosos, digamos assim, evitando-se palavras mais ásperas como as que se ouviram nas últimas semanas, com Guimarães ameaçando rompimento caso o nome escolhido seja Roberto Cláudio e Ciro replicando com um enfático “Que seja feliz”.
A pergunta que interessa é: vai funcionar?
A questão de fundo, a escolha do nome do candidato (que carrega consigo uma série de outras questões, como o deslocamento do poder no Ceará e a manutenção de uma hegemonia política), permanece, ou seja, o PT de Guimarães segue postulando a candidatura de Izolda e o PDT de Figueiredo continua mais tendente a lançar RC.
A diferença agora é que já não se fala mais em divórcio, mas na preservação do casamento, a despeito das “intrigas e das fofocas”, como disse o petista, minimizando a fogueira na qual o próprio PT ajudou a colocar lenha no mês de junho.
Do lado do PDT, o mesmo espírito conciliador parece ter recobrado protagonismo, como se deduz das declarações públicas de Figueiredo.
Trocando em miúdos: depois de semanas de altercações verbais e clima de barata voa na aliança, os dois maiores partidos que dão sustentação à governadora Izolda Cela começaram finalmente a se entender.
O que não quer dizer nem que a aliança esteja a salvo de turbulências; nem que, uma vez assegurada a chapa, os atritos e trocas de farpas já não tenham causado fissuras nessa composição a ponto de comprometê-la.
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