Quais as consequências eleitorais da saída de Izolda do PDT
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Quais as consequências eleitorais da saída de Izolda do PDT
O gesto da governadora Izolda Cela tem impacto político e eleitoral considerável na campanha de 2022. Mexe com cenários e tem peso diferente para os três principais candidatos ao Governo
Sete dias depois da decisão do PDT que vetou Izolda Cela como candidata à reeleição, a governadora anunciou desfiliação do partido. Fez isso pelas redes sociais, em comunicado aberto.
O gesto tem impacto político e eleitoral considerável na campanha de 2022. Mexe com cenários e tem peso diferente para os três principais candidatos ao Governo.
Fora do PDT, a governadora fica livre agora de qualquer cobrança da legenda de Ciro Gomes para que apoie Roberto Cláudio na campanha, ou seja, o partido e seu candidato não terão a seu lado a força da máquina estadual.
Em 2012, quando disputou a Prefeitura, RC era apoiado por Cid Gomes, então governador. Em 2016, candidato à reeleição bem avaliado, elegeu-se contra Capitão Wagner, à época no PR – e tendo amparo de Camilo Santana, já governador. Em 2020, lançou José Sarto à sucessão, que precisou da ajuda da Prefeitura e do Governo para derrotar o militar reformado.
E em 2022? RC chega em desvantagem para uma disputa majoritária como nunca chegou antes. Agrava ainda o quadro o fato de que, por enquanto, assegurou apenas duas adesões partidárias, do PSD e do PSB, este ainda não oficializado.
A saída de Izolda tem reflexos também para o PT. Escolhido como postulante da sigla de Camilo, Elmano de Freitas ganha uma potencial aliada no pleito, já que nada impede que Izolda declare voto no petista. Se deverá fazê-lo ou não, são outros quinhentos, mas a gestora está, daqui para frente, desimpedida.
Numa eleição acirrada como a deste ano, ter o apoio de Izolda é um trunfo importante. Não custa lembrar que, nas próprias pesquisas de intenção de voto contratadas e divulgadas pelo PDT, embora numericamente atrás de RC, a governadora pontuava muito bem para quem tinha assumido o posto de titular havia apenas três meses - e com uma rejeição menor do que a do correligionário.
Noutros levantamentos, quando se mostrava ladeada por Camilo e Lula, vencia a peleja ainda no primeiro turno, obtendo percentuais mais altos do que os de RC quando era testado ao lado Ciro.
Foi esse capital eleitoral que o PDT perdeu e que, a partir deste momento, pode se deslocar para um outro nome. Mas para quem?
Excluindo-se o ex-prefeito de Fortaleza e Capitão Wagner (União Brasil), o destinatário desse voto “izoldista” seria naturalmente o cabeça de chapa do bloco coordenado por Camilo, um aliado de primeira hora e principal defensor da tese da reeleição da chefe do Executivo.
Para Wagner, a decisão de Izolda também é positiva, já que coloca o Executivo numa posição de menos engajamento na briga direta.
A governadora pode eventualmente se envolver e se manifestar pessoalmente no curso da campanha, apontando nesta ou naquela direção de sua preferência, mas a tendência de que trabalhe abertamente por um candidato é menor.
Menor, mas não descartada. Logo, em qualquer hipótese, Izolda volta ao jogo político como uma força influente. Depois de ter sido preterida pelo PDT no que, para a gestora, representava um direito à candidatura, ela se recoloca no tabuleiro ao deixar o partido.
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