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Camilo e a suspensão do novo ensino médio
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Camilo e a suspensão do novo ensino médio

O novo ensino médio é um vespeiro para o governo Lula, que vai chegando aos 100 dias tentando acertar o ponteiro do relógio
O ministro da Educação, Camilo Santana, reforça seu poderio político no Ceárá



O ministro Camilo Santana reforça seu poderio político no Ceará.







durante coletiva após reunião com reitores das universidades federais do país e dos institutos federais de ensino, no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil O ministro da Educação, Camilo Santana, reforça seu poderio político no Ceárá O ministro Camilo Santana reforça seu poderio político no Ceará. durante coletiva após reunião com reitores das universidades federais do país e dos institutos federais de ensino, no Palácio do Planalto.

O novo ensino médio deve ser suspenso pelo governo Lula, asseguram extraoficialmente fontes da própria gestão petista em reportagens de “Folha de S. Paulo” e “O Globo” nesta segunda-feira, 3. 

Do titular do Ministério da Educação (MEC), porém, não se ouviu nada ainda. Pelo contrário, Camilo Santana (PT) tem sido enfático ao dizer que é contra a revogação da modalidade, que reestrutura a grade dos anos finais e redesenha o Enem.

A notícia de que o calendário de implementação da proposta havia sido interrompido, portanto, não foi anunciada por Camilo, o chefe da pasta.

Não se trata de uma derrota do ministro, evidentemente, até porque não houve revogação. Mas é estranho que o Planalto tenha feito vazar o adiamento enquanto o ex-governador do Ceará mantinha agenda durante a qual não fez qualquer menção ao que depois se apresentaria como o principal fato do dia: o modelo seria paralisado.

Camilo, como se sabe, é bom negociador. Afeito ao diálogo, procura compatibilizar interesses conflitantes antes de qualquer decisão. Mas o tempo na Esplanada corre diferente.

O novo ensino médio é um vespeiro para o governo Lula, que vai chegando aos 100 dias tentando acertar os ponteiros do relógio. Concebido sob Temer e executado na gestão de Bolsonaro, foi tocado à revelia de entidades e segmentos mais interessados no tema (grupos educacionais, professores e estudantes).

Levado adiante sem considerar a realidade das escolas, vinha sendo tratado como a materialização do futuro na educação, numa manobra retórica que pretendia encapsular toda crítica como um desejo anacrônico de retorno ao passado – os mais exagerados chegaram a ver tentativa de desgaste do governo.

Que o ensino médio não é atrativo para a juventude, nisso não há qualquer novidade. A pergunta a se fazer é se a alternativa adotada responde aos desafios postos.

Uma parte relevante dos envolvidos no debate sobre o assunto entende que não. Para essa ala, o novo ensino médio, pelo menos como está esboçado, não apenas não é uma solução, mas agrava o problema ao reduzir as horas de estudo de disciplinas tracionais e forçar alunos e alunas a cursarem itinerários formativos que não foram escolhidos por eles e elas. Ou seja, é o pior dos mundos.

Para outro setor, formado por secretários/secretárias de Educação – aos quais se somam os “pitaqueiros” de plantão (Luciano Huck, por exemplo) –, a medida é imperfeita, mas necessária.

Num gesto salomônico tipicamente camilista, o ministro reabriu negociações por um período de 90 dias, nos quais o NEM deverá passar por aperfeiçoamento. Foi insuficiente para reduzir a temperatura política. 

Sob esse ponto de vista, então, o Planalto cedeu à pressão dos estudantes, uma parcela cujo voto é importante consolidar nos próximos quatro anos.

Se o novo ensino médio vai ser realmente revogado, isso são outros quinhentos. Mas a proposta subiu no telhado, contrariando as sinalizações mais recentes de Camilo.

Foto do Henrique Araújo

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