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Prestes a assumir o PSB, Eudoro defende filiação de Evandro: "Caberia muito bem no partido"
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Prestes a assumir o PSB, Eudoro defende filiação de Evandro: "Caberia muito bem no partido"

Em entrevista ao O POVO, Eudoro Santana, que é pai do ministro Camilo Santana, avaliou que o presidente da Assembleia "é um quadro preparado para assumir liderança nesse projeto"
EUDORO assumirá o PSB Ceará no dia 26 de agosto (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES EUDORO assumirá o PSB Ceará no dia 26 de agosto

Às vésperas de assumir a presidência do PSB no Ceará, o ex-deputado estadual Eudoro Santana garantiu que irá trabalhar para que o deputado Evandro Leitão, hoje no PDT, migre para o PSB e concorra à Prefeitura de Fortaleza em 2024.

Em entrevista ao O POVO, Eudoro, que é pai do ministro Camilo Santana (Educação), avaliou que o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) “é um quadro preparado para assumir liderança nesse projeto”.

“Não tenha dúvida de que eu advogo, com o grupo que está assumindo a comissão provisória do PSB, que o Evandro é um grande quadro e que caberia muito bem dentro do PSB. Evidentemente vamos trabalhar nesse sentido”, acrescentou.

A posse de Eudoro à frente da executiva estadual do PSB está marcada para o sábado, 26, em cerimônia na Alece.

O POVO – Quero começar por seus planos partidários a partir de sábado, 26/8, quando o senhor assume o PSB no Ceará. Como pensa o papel do partido em 2024?

Eudoro Santana – Eu aceitei o convite do presidente do partido nacional (Carlos Siqueira), que já havia feito esse convite em outras oportunidades, mas resolvi aceitar agora. Até surpreendeu muita gente. Porque eu não tenho mais nenhuma pretensão política de candidatura. Aceitei exclusivamente para trabalhar e levar o partido para o seu leito normal no campo da esquerda. O PSB há tempos vem divergindo desse campo. O PSB sempre foi aliado do PT, do PCdoB, dos partidos desse campo. E eu, uns anos atrás, fui presidente por seis anos do PSB. Saí de lá por divergência. Aliás, minhas mudanças sempre foram em função de divergências políticas, não por outras razões ou outros interesses. Eu ajudei a refundar e organizar o PSB com um grupo de amigos aqui, que me chamaram na época. Eu era deputado. O Valton Miranda me convidou e fui. Lá fui presidente e saí da presidência do partido quando Miguel Arraes resolveu apoiar Garotinho contra a candidatura do Lula. Eu achei que era uma coisa absurda. Depois de tantos anos apoiando o Lula e de ter sido candidato a vice nas várias eleições do Lula, no momento em que Lula tinha todas as condições objetivas para se tornar presidente, o PSB vai apoiar o Garotinho. Não tinha nada a ver com o nosso projeto de mudança. Tanto que não aceitamos e não permitimos nem que o Garotinho viesse aqui, o partido não o recebeu. Foi um candidato a presidente que não teve condições de vir ao Ceará. Em razão disso, houve ameaça de expulsão, e nós resolvemos sair do PSB. Agora, alguns anos depois, estou retornando exatamente para levar no Ceará o partido para ir para o seu campo, ou seja, apoio ao PT e a esse grupo hoje liderado pelo ex-governador Camilo (PT), pelo governador Elmano (PT) e pelo ex-governador Cid Gomes (PDT). É essa a razão fundamental da nossa ida para o PSB, para o nosso retorno.

O POVO – Isso significa, claro, apoio do partido ao candidato desse grupo ano que vem em Fortaleza.

Eudoro Santana – Não tenha dúvida. Isso foi colocado. Sou muito transparente nessas coisas. Ao próprio presidente (do PSB), disse que retornaria nessas condições, o partido retornar ao seu leito e apoiar aqui o governador Elmano e esse grupo que citei: Cid, Camilo e Evandro Leitão também, que está dentro desse grupo. E dar continuidade a esse projeto que vem transformando o estado. Essa é a razão fundamental. Todos os meus movimentos políticos ao longo desses 40 anos foram no sentido de levar o Ceará para continuar esse projeto, que começou com Tasso Jereissati (PSDB). Continuei então apoiando (o projeto), mas já com a eleição do Cid Gomes para governador. Cid deu amplitude a essas mudanças, deu avanço numa velocidade maior. Apoiei, e não tinha nem dúvidas, a própria candidatura do Camilo, que também deu grande avanço. E agora a última eleição. Até nem ia participar do processo eleitoral (de 2022), achava que já tinha dado a minha contribuição, ia me recolher. Mas, quando houve essa confusão e esse racha, eu resolvi entrar, combinado com o ex-governador Cid Gomes, com quem mantemos uma relação permanente e leal. Houve o rompimento, e esse grupo lançou o Elmano apoiado pela então governadora – que deveria ter sido a candidata – Izolda Cela, pelo Cid e pelo Evandro. E o resultado foi surpreendente, até para aqueles mais experientes ou que pensam que conhecem com muita profundidade a política no Ceará: o Elmano ganhou no primeiro turno.

O POVO – O senhor citou o deputado Evandro Leitão (PDT). Ele esteve recentemente no jornal e elogiou muito o PSB, disse que tem muita ligação com o partido. O senhor vai convidá-lo para se filiar ao PSB?

Eudoro Santana – Olhe, isso não é um projeto meu, é um projeto em razão do projeto maior que é continuar esse modelo de gestão que vem se desenvolvendo há anos no Ceará. Acho que hoje o estado tem uma base sólida do ponto de vista econômico, mas precisa avançar do ponto de vista social. Apoiando o Elmano e estando do lado desse projeto, ele (Evandro) tem condições de influenciar. Acho que nossa ida para o PSB é para que o partido possa crescer. Já tivemos contato e articulação com várias lideranças e prefeitos. Não tenha dúvida de que eu advogo, com o grupo que está assumindo a comissão provisória do PSB, que o Evandro é um grande quadro e que caberia muito bem dentro do PSB. Evidentemente vamos trabalhar nesse sentido. Mas, no momento, não há nenhuma decisão. Agora, já temos prefeitos, alguns ligados a ele, outros ligados ao Camilo, outros ligados a outros partidos, que estão vindo. Alguns, talvez uma dúzia, deverão entrar no dia da minha posse.

O POVO – Há toda essa especulação em torno do futuro partidário do Evandro. Defende que ele esteja no PT ou no PSB, pensando nas eleições de 2024?

Eudoro Santana – É evidente, e vamos trabalhar nesse sentido: no PSB.

O POVO – Do ponto de vista pessoal, o senhor avalia que Evandro é hoje o nome com mais condições de representar esse grupo na eleição?

Eudoro Santana – Primeiro, eu trabalho em razão do projeto. Para mim, é o projeto do Ceará, esse projeto que vem se desenvolvendo e transformando o estado não só na área da educação, mas também na economia, na gestão dos recursos, na pesquisa, na ciência. O Ceará tem avançado muito, mesmo com dificuldade, principalmente nesses últimos quatro anos, porque praticamente não recebeu ajuda do Governo Federal. Eu creio, sem qualquer ilusão, que há um reconhecimento, tanto pela eleição do Camilo quanto pela eleição do Elmano no primeiro turno, do que está fazendo esse grupo – Cid, Camilo e Elmano, que vai fazer muito mais. A população reconhece que o estado está no caminho certo. É por isso que estamos voltando, para que o PSB vá no rumo certo. E o rumo certo significa apoiar esse projeto para o estado do Ceará. Não é um projeto pessoal, político-partidário, mas para o estado. Um projeto importante e que precisa avançar do ponto de vista social, evidentemente crescendo economicamente. Eu olho o Evandro hoje nesse contexto primeiro como um aliado e como uma pessoa que está defendendo esse projeto, que vem trabalhando e que contribuiu fundamentalmente para a eleição do Elmano e a continuação do projeto. Então ele é um quadro que está se preparando, e preparado de certa forma já, para assumir liderança nesse projeto.

O POVO – É um nome também muito próximo do ministro Camilo Santana, que já manifestou entusiasmo com ele.

Eudoro Santana – Ele hoje é o nome talvez mais forte. Ele também foi muito leal com Camilo, sendo de outro partido que não apoiaria Camilo pela decisão do próprio partido, embora a grande figura do partido, que é Cid Gomes, declarou inclusive e fez propaganda pra ele, mesmo não esperando o segundo turno, que não houve. Mas, indiretamente, apoiou e contribuiu evidentemente para que Elmano fosse eleito no primeiro turno, disso não há dúvida. Quem faz política sabe da influência de uma liderança da qualidade de Cid Gomes. E Camilo foi o grande articulador em todo esse processo, sempre articulado com o ex-governador Cid Gomes, que é nosso amigo e nosso companheiro e que tem sido uma peça fundamental.

O POVO – O senhor ainda vê espaço para uma aliança com o PDT em Fortaleza para a eleição do ano que vem?

Eudoro Santana – Esse é um trabalho que o ex-governador Cid está fazendo. Ele é uma pessoa obstinada, é um grande líder e um grande responsável por esse projeto e por ele ter continuado nas mãos de quem defende o projeto. Para o fortalecimento desse conjunto de forças, ele é fundamental. Muita gente foi para o outro lado. Talvez até não quisesse mudar o projeto, mas acabou indo por outras razões. Muitos estão retornando, estão refletindo sobre isso, e acho que esse é um papel dos líderes políticos. Agregar as pessoas a um projeto. Aqueles no PSB que tiveram uma posição contrária na última eleição, que não votaram em Elmano e não votaram nesse projeto, e agora reconhecem e querem continuar no partido, vão ter que ir por essa cartilha. Essa cartilha não será afastada. É o retorno do PSB ao seu leito, que é o campo da esquerda.

O POVO – E os que não quiserem?

Eudoro Santana – Aqueles que não quiserem vão para outro partido. O partido é democrático, pode ter divergências internas, elas serão respeitadas, mas a direção do partido está nesse rumo. Não podemos colocar na direção do partido aqueles que já estão discordando. O eixo fundamental é estarmos apoiando o projeto de desenvolvimento econômico e social do estado.

Foto do Henrique Araújo

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