Blocos começam a se definir em Fortaleza para a disputa eleitoral de 2024
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Blocos começam a se definir em Fortaleza para a disputa eleitoral de 2024
De um lado, o bloco camilo-cidista; do outro, o bloco tasso-cirista. Um representa o governismo estadual e o outro, o governismo municipal. As duas forças devem se enfrentar em Fortaleza em 2024
Um novo alinhamento começa a se esboçar em Fortaleza com vistas à disputa eleitoral do ano que vem.
De um lado, há o bloco liderado pelo hoje ministro Camilo Santana (PT), ex-governador e aliado do senador Cid Gomes, outro nome de peso de um arco que inclui ainda Elmano de Freitas, chefe do Abolição, e outros dirigentes partidários de influência.
Noutra ponta, estão o ex-presidenciável Ciro Gomes, o ex-senador Tasso Jereissati e o ex-prefeito Roberto Cláudio – os três têm encontro nesta segunda, 30, em convenção do PSDB –, todos interessados diretamente na reeleição do atual mandatário da capital cearense, José Sarto (PDT).
As razões são claras: Ciro por seus vínculos com Sarto, RC por tê-lo lançado como sucessor em 2020 e Tasso porque seu partido ocupa a vice com Élcio Batista.
Trata-se de uma polarização que se configura na esteira do rompimento do bloco aliancista ainda em 2022. Dessa cisão resultou, por exemplo, o afastamento da dupla Cid e Camilo de seu antes aliado, Ciro.
A vitória superlativa do petista ano passado, elegendo-se senador e alçando Elmano ao Governo, é um dos combustíveis desse rearranjo de forças, com um reencontro até curioso de personagens cujas trajetórias haviam se afastado, a exemplo de Ciro e Tasso ou de Capitão Wagner (também esperado no evento partidário de hoje) e o grupo tucano no Ceará.
Todo esse movimento se dá em meio a uma decisão judicial comemorada por Evandro Leitão, deputado estadual que agora pode deixar o PDT sem receio de perder o mandato parlamentar após ter ação de desfiliação partidária acolhida por unanimidade no pleno do TRE-CE.
Ambos os campos perseguem o mesmo objetivo: unidade em torno de um quadro que reúna mais condições de aglutinar as forças. Do lado tasso-cirista, isso impõe mais habilidade ainda, já que passa por negociações com setores da direita e da centro-direita em Fortaleza dos quais ele havia se distanciado.
Por parte do governismo estadual, com Camilo e Cid à frente, as dificuldades se situam mais nos trâmites internos do PT, hoje convencido de que a melhor solução é uma candidatura própria da legenda.
A dupla, porém, já demonstrou – Camilo muito mais que Cid – que Evandro é um nome pelo qual têm simpatia. No partido do ministro, contudo, o cenário de uma potencial candidatura de Evandro ainda requer uma costura fina, com tratativas sobretudo em relação à posição da deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins – ela mesma pré-candidata ao Paço, assim como Guilherme Sampaio e Larissa Gaspar, deputados estaduais.
Se Camilo, Luizianne, Cid e o deputado federal José Guimarães se entenderem localmente, contemplando bem outros atores (Eunício Oliveira pelo MDB e Domingos Filho pelo PSD), a construção da candidatura desse arco estará facilitada e as portas para Evandro como candidato do grupo, abertas.
Resumo da ópera: o que os movimentos desta segunda-feira atipicamente agitada sugerem é que os campos opostos (o governismo estadual e o governismo municipal) finalmente compreenderam a importância de coesionar minimamente seus polos se quiserem ter chances reais de estarem no segundo turno da eleição em Fortaleza.
Uma vez chegando lá, como reza a cartilha do clichê político, é outra eleição.
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