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O maior desafio de Capitão Wagner
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O maior desafio de Capitão Wagner

Tipo Opinião
Capitão Wagner  (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Capitão Wagner

Há mais de uma década, Capitão Wagner (União Brasil) cumpre função de grande antagonista do bloco antes liderado por Cid Gomes e agora por Camilo Santana, embora, na prática, o controle do poder não tenha efetivamente se deslocado tanto assim de mãos. Entre 2012 e 2022, o ex-deputado federal foi o único a chegar muito perto de ameaçar o condomínio governista, primeiro com a greve de policiais que o catapultou ao cenário eleitoral e fez o Executivo estadual se curvar; e posteriormente com o pleito de dois anos atrás, quando foi ao segundo turno contra José Sarto (PDT), ficando para trás por muito pouco.

Nesse intervalo, Wagner se elegeu vereador, deputado estadual e depois federal. Concorreu a algum mandato a cada dois anos. Já em 2022, apostou alto na disputa pelo Governo. Sem cadeira congressual, a partir de 2023 passou a ocupar a Secretaria da Saúde de Maracanaú, cuja gestão deve compor sua vitrine de experiências a apresentar ao eleitorado neste ano, quando participa da "eleição da sua vida", conforme suas declarações em entrevista à repórter do O POVO Thays Maria Salles em evento do União Brasil nessa quinta-feira, 6.

O peso do bolsonarismo

Das seis eleições nas quais Wagner postulou cargo, metade se deu antes da ascensão de Jair Bolsonaro (PL) como uma figura politicamente de relevo e metade depois. Ou seja, existe um capital eleitoral conquistado por ele que antecede à chegada do então aliado ao Palácio do Planalto, ainda em 2018. Disso decorrem dois ineditismos na briga pela sucessão de Sarto.

Um diz respeito ao cenário: Wagner concorre ao Executivo municipal pela primeira vez desde a derrota do ex-presidente nas urnas e tendo uma candidatura genuinamente bolsonarista como potencial adversária (André Fernandes), salvo algum entendimento entre ambos no turno inicial do pleito.

O segundo ineditismo está relacionado a uma equação diante da qual o pré-candidato deve descobrir se consegue se manter competitivo mobilizando majoritariamente o seu eleitorado próprio, aquele que lhe deu voto de confiança em 2012, 2014 e 2016 sem vinculá-lo direta ou indiretamente a Bolsonaro, algo que se veria em 2018, 2020 e 2022.

O que dizem as pesquisas

Por enquanto, as poucas pesquisas já realizadas na capital cearense dão margem para algum otimismo de Wagner, mas sem deslumbramento. Afinal de contas, é natural que o candidato da máquina estadual, por exemplo, avance lentamente, tal como se viu com o próprio Sarto em 2020. Também é esperado que o prefeito ocupe posições na dianteira neste começo da corrida.

O fator mais importante a se observar de agora em diante é se um virtual crescimento de Fernandes na preferência do eleitorado iria se dar ao custo do patamar de votos de Wagner ou do prefeito - ou dos dois, e em que proporção. Dessa dinâmica depende o desenho de um segundo turno em Fortaleza, na hipótese de haver um.

Uma eleição atípica

Dos clichês da política, o mais resiliente é certamente esse segundo o qual toda eleição é, além de imprevisível, decisiva - este, noves fora o clichê, é também um truísmo. A despeito disso, a corrida ao Paço de 2024, como já disse noutra ocasião, deve aposentar ou colocar na geladeira por um bom tempo ao menos dois personagens cruciais da cena local: um no primeiro e outro no segundo turno.

Há muito em jogo, não custa repetir: para Sarto, a sobrevida do grupo de Ciro Gomes e Roberto Cláudio; para Wagner, a sua carreira; para Fernandes, o poder de fogo do bolsonarismo e seu futuro no campo da direita; para Evandro Leitão, o capital de Camilo Santana e a reeleição de Elmano de Freitas em 2026. Todos, sem exceção, têm muito a perder.

 

Foto do Henrique Araújo

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