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Elmano quer turbinar Evandro entre evangélicos
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Elmano quer turbinar Evandro entre evangélicos

Entre aliados do bloco petista, a leitura é a seguinte: se se puder ao menos reduzir a ascendência de André Fernandes (PL) entre neopentecostais em Fortaleza
Tipo Análise
SESSÃO na Assembleia Legislativa que aprovou o projeto das bíblias nas escolas (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA SESSÃO na Assembleia Legislativa que aprovou o projeto das bíblias nas escolas

A estratégia do governador Elmano de Freitas (PT) para turbinar o candidato Evandro Leitão entre evangélicos está posta: acenar para o público com uma agenda de interesse desse segmento. É o caso do projeto das "bíblias nas escolas", aprovado sem dificuldade na Assembleia Legislativa nessa quarta, 14, com apoio vital do presidente do parlamento. Entre aliados do bloco petista, a leitura é a seguinte: se se puder ao menos reduzir a ascendência de André Fernandes (PL) entre neopentecostais em Fortaleza, Evandro teria chances de liquidar a fatura num cenário de 2º turno contra o deputado federal, em torno de quem possivelmente se aglutinariam forças de direita e conservadoras - à exceção, talvez, de Capitão Wagner (União). No entorno do Abolição, há entendimento de que Fernandes seria o melhor adversário para um tira-teima, tanto por vulnerabilidades do postulante (imaturidade e rejeição), quanto por empecilhos para coesionar o seu espectro político. Daí, então, a tática de Elmano, que tenta abrir o "mar vermelho" para que o deputado estadual capture uma parcela do voto religioso.

Dividindo o eleitorado evangélico

É esse precisamente o papel que cabe ao deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique, do Republicanos de Chiquinho Feitosa, "camilista" cuja fé no governismo está fora de qualquer questão. Evangélico não-bolsonarista, o que não significa que seja "lulista" ou simpático ao petismo, o parlamentar tem ocupado um espaço no tabuleiro que o projeta como uma dissidência no campo religioso. Em bom português: sua função é antagonizar com lideranças pró-André, fazendo um contraponto ao candidato do PL - a reação imediata da vereadora Priscila Costa é indício de que o movimento causou incômodo. Para levar a cabo a missão, o apóstolo já tem matéria-prima em mãos, ou seja, o projeto das bíblias, o mesmo que foi apoiado por um Elmano que, conforme Luiz Henrique, havia sido "tocado pelo Espírito Santo".

Elmano, a segurança e a religião

Antes de abraçar o projeto das bíblias, Elmano já tinha feito gesto interessante ao anunciar uma "caçada a bandidos" no Ceará, adotando perfil mais linha-dura e indicando para a Segurança o delegado federal Roberto Sá. Em entrevistas, contudo, o petista foi além: disse que a esquerda precisa renovar seu discurso em relação ao combate à violência, que sempre foi o calcanhar de Aquiles das gestões desse bloco. A essa entrada num território mais frequentado por uma direita bolsonarista, o governador adicionou um passo em direção aos evangélicos, tornado possível com a proposta dos livros sagrados, que o chefe do Executivo prometeu comprar e distribuir em toda a rede estadual. Resumo da ópera: Elmano vem procurando contornar dificuldades locais que o PT e Lula enfrentam nacionalmente, mas para as quais ainda não encontraram respostas satisfatórias.

Cid e o PT se estranham

Até aqui dedicado exclusivamente à articulação de candidaturas do PSB no interior do estado, o senador Cid Gomes tem se estranhado, digamos assim, com lideranças do petismo local, também em expansão Ceará adentro, notadamente os atores de relevo nacional cuja energia é investida no projeto de converter o partido no maior da base de Elmano. Cid, porém, tem outra ambição: fazer do PSB uma força política tão robusta quanto PT e PSD, projetando-se para 2024 e 2026. Esse entrevero recente na Assembleia, quando se opuseram Francisco de Assis Diniz (PT) e Lia Gomes (PDT), é apenas a ponta do iceberg de uma animosidade crescente cuja fervura não se sabe ainda a que nível pode chegar.

 

Foto do Henrique Araújo

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