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Elmano com bíblia na mão e eleição na cabeça
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Elmano com bíblia na mão e eleição na cabeça

O compromisso de Elmano de distribuir bíblias nas escolas sinaliza para essa disputa mais dura em torno dos marcos do voto religioso, hoje pleiteado à direita e à esquerda
Governador Elmano de Freitas (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Governador Elmano de Freitas

Imagine-se que um candidato alinhado ao bolsonarismo houvesse vencido as eleições de 2022 para o Governo do Estado e, passada a metade do mandato, prometesse comprar e distribuir bíblias nas escolas da rede estadual do Ceará. Embora se trate de cenário hipotético, pode-se facilmente supor a enormidade da repercussão, com uma grita sobretudo do campo progressista. Não foi, todavia, o que se viu na última semana, quando o chefe do Executivo, Elmano de Freitas (PT), não somente acenou para a possibilidade, mas assegurou, diante de plateia evangélica, que iria fazer aprovar um projeto, de autoria do deputado Apóstolo Luiz Henrique, para aquisição e difusão do livro sagrado entre instituições de ensino. Noves fora a contrariedade à noção de laicidade do Estado e a certeza de que a iniciativa será chancelada pela Assembleia (cujo presidente, Evandro Leitão, é candidato à Prefeitura apoiado pelo gestor), o compromisso de Elmano sinaliza para essa disputa mais dura em torno dos marcos do voto religioso, hoje pleiteado à direita e à esquerda.

Luizianne e o PT "raiz"

A depender de como se veja a questão, a discussão sobre o que seria esse PT "raiz" implica nuances - ou tonalidades cromáticas que não se esgotam no vermelho rubro de Luizianne Lins ou no branco a la Fernando Haddad (aquele de 2012) do hoje ministro Camilo Santana. No partido, o problema tem consumido alguma energia, interna e externamente. Em participação no Debates do Povo, por exemplo, a deputada estadual Larissa Gaspar advogou a tese de que a ala histórica do PT em Fortaleza não se limitaria à figura de LL, por ora ainda reticente quanto a assumir qualquer papel na campanha de Evandro. Para a parlamentar, há outros atores políticos de relevo que, diferentemente da ex-prefeita, estão ao lado do representante da agremiação. Larissa tem razão. O entorno de Luizianne, contudo, se pergunta se esse galho petista teria densidade suficiente na Capital para alavancar o deputado.

 

O tempo de cada candidato

Evandro, no entanto, tem um trunfo na mão: tempo. Mais especificamente, a previsão do maior pedaço do bolo da propaganda eleitoral, dispondo de aproximadamente 4 minutos de exposição no rádio e na televisão, segundo estimativas de interlocutores. Seguem-se André Fernandes (PL), com cerca de 3min40s; Capitão Wagner (União Brasil), com algo em torno de 3min20s; e José Sarto (PDT), com 1min. No time do chefe do Legislativo, a intenção é explorar a vantagem com inteligência, dedicando uma fração para fixar o trinômio Evandro/Lula/Camilo, outra para mostrar benefícios já obtidos por esse alinhamento e mais uma para enfatizar as fragilidades da gestão atual e de oponentes.

O debate e o cartão de visitas

O que se pode concluir do primeiro debate entre candidatos? Articulado e com boa performance, Wagner tem de se diferenciar não apenas dos demais postulantes, o que até consegue fazer com habilidade, mas também e principalmente quanto ao que já apresentou nas eleições anteriores, de modo a evitar a sensação de fadiga da imagem e do discurso. Sarto, por sua vez, precisa ponderar o uso do tom despojado e o recurso à comicidade, a fim de não incorrer no excesso e parecer artificioso além do esperado. André, deliberadamente sereno, soou inconvincente ao recalcar a persona e o temperamento que exibe nas redes, algo que não resiste ao mero contraste. Evandro, por seu turno, carece de receituário mais consistente para as situações com as quais irá se defrontar - é surpreendente que tenha chegado na Band sem resposta mais elaborada sobre a CPI do narcotráfico.

 


Foto do Henrique Araújo

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