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André Fernandes foi mais inteligente que Marçal
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

André Fernandes foi mais inteligente que Marçal

Fernandes cumpre o papel de gestor cuja preocupação é estabelecer interlocução com faixas do eleitorado com as quais a centro-esquerda tem dificuldade de dialogar
Tipo Análise
André Fernandes (PL): a estratégia e o desafio (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal André Fernandes (PL): a estratégia e o desafio

André Fernandes (PL) vem sendo no 1º turno em Fortaleza o que Pablo Marçal (PRTB) talvez desejasse ter sido em São Paulo, ou seja, um candidato cuja participação na corrida foi gradualmente se inscrevendo no quadro de normalidade, parte porque cada concorrente esteve ocupado com suas estratégias, parte porque o próprio Fernandes desenhou seu plano de campanha sob esse princípio. Desde o início, sabia-se que o maior desafio do nome do PL seria galvanizar um eleitorado para além da bolha bolsonarista. Então, as apostas do mercado político se resumiam à crença segundo a qual o Fernandes candidato replicaria o Fernandes parlamentar, o que quer dizer que se supunha que o deputado investiria na radicalização, uma constante em sua trajetória. Nesses mais de 30 dias, ele cumpre à risca, todavia, o papel incorporado na largada, qual seja, o de gestor cuja preocupação é estabelecer interlocução com faixas do eleitorado com as quais a centro-esquerda tem dificuldade de dialogar.

O "pulo do gato" de Fernandes

Talvez porque não seja nem bolsonarista "raiz" nem evangélico de carteirinha, mas alguém cujo discurso emula o bolsonarismo e o empacota sob a verve inflamada de um pastor/empresário, Marçal tenha se obrigado a avançar sobre o eleitorado do ex-presidente mesmo à sua revelia. Em certo sentido, essa operação foi bem-sucedida. O barco do concorrente começou a fazer água, porém, quando a aposta no caráter antissistema de sua candidatura passou a se voltar contra as regras do jogo em si, do qual todos participam e cuja crença compartilham, à direita ou à esquerda. Marçal se tornou alvo generalizado porque tentou demolir o próprio campo por meio do qual os "players" atuam, a exemplo dos debates, situação na qual descumpria acordos, fossem apalavrados, formais ou tácitos. André Fernandes optou por outro caminho. Como não tinha necessidade de pagar esse pedágio simbólico, já que se trata de um bolsonarista de fato, sua dificuldade maior seria outra: apresentar-se sob roupagem palatável. É o que tem feito até aqui, performando como mais um pleiteante que aceita de bom-grado a justeza das regras e se submete às leis do campo.

Disputa será definida pelo centro

Caso esteja no 2º turno, um novo obstáculo vai se apresentar ao pretendente do PL: conquistar o centro do tabuleiro. Como no xadrez, quem domina essa área consegue impor o ritmo da partida. Não por acaso, Fernandes já deu início a uma nova estratégia. Nela, faz acenos a estratos para os quais, como parlamentar, teria virado as costas. Ele sabe que, para vencer, terá de atrair parcelas expressivas dos votos dos adversários que ficarem pelo caminho, potencializando a migração com gestos concretos. Pelo histórico do candidato, trata-se de uma tarefa difícil, sobretudo se o oponente for Evandro Leitão (PT), cujo perfil teria vantagem nesse movimento rumo ao centro - uma posição na qual Evandro sempre esteve.

Os ausentes do pleito na Capital

A nove dias da eleição, as ausências se notabilizam em Fortaleza tanto quanto as presenças. De Cid Gomes (PSB), por exemplo, esperava-se mais do que o vidro do carro adesivado e uma caminhada episódica ao lado de Evandro. Ex-prefeita, Luizianne Lins (PT) se manteve dedicada a Caucaia, limitando os encontros na Capital a poucos eventos com candidatas. Irmão de Cid, o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) também segue afastado, entrando em cena apenas em momentos específicos, tal como a convenção que oficializou Sarto como cabeça de chapa. Lula, cuja imagem é a grande estrela da campanha do PT, cumpriu agenda uma vez na cidade.

 

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