Logo O POVO+
Atentado a bomba não é caso isolado
Foto de Henrique Araújo
clique para exibir bio do colunista

Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Atentado a bomba não é caso isolado

Existe encadeamento entre atos e consequências. Os gatilhos são o caldo de extremismo a partir do qual Luiz investiu contra as instituições e cujo subproduto é o farto conjunto de indícios de que agia politicamente motivado contra o alvo prioritário dos aliados de Bolsonaro (o ministro Alexandre de Moraes)
PRÉDIO do Supremo Tribunal Federal (STF) após atentado de quarta-feira (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil PRÉDIO do Supremo Tribunal Federal (STF) após atentado de quarta-feira

Há toda sorte de tese cujo objetivo é evitar o inevitável, ou seja, escamotear os nexos entre o bolsonarismo e Francisco Wanderley Luiz, homem-bomba que atacou o STF e se explodiu, não se sabe ainda se intencionalmente ou não.

Trata-se de operação semântica de grande dificuldade, visto que o ex-candidato a vereador pelo PL por um município de Santa Catarina deixou rastros que o vinculam aos apoiadores do ex-presidente, um dos quais se constitui pelo relato de familiares, gente que o conheceu de perto e para quem ele era uma pessoa "normal" antes de passar a consumir uma dieta com base em conspiracionismo. Segundo ex-mulher e irmão, por exemplo, Luiz se radicalizou depois da derrota em 2022 de Jair Bolsonaro (PL), chegando a participar dos acampamentos golpistas que resultaram no 8/1 de 2023 e numa tentativa de denotar o aeroporto de Brasília.

Existe encadeamento entre atos e consequências. Os gatilhos são o caldo de extremismo a partir do qual Luiz investiu contra as instituições e cujo subproduto é o farto conjunto de indícios de que agia politicamente motivado contra o alvo prioritário dos aliados de Bolsonaro (o ministro Alexandre de Moraes). Em sua casa e trailer alugados, foram encontradas oito bombas caseiras, além daquelas que já haviam sido empregadas no episódio de terrorismo.

Luiz preparou e executou um plano - se foi bem-sucedido ou um trapalhão, não interessa. Importa dimensionar duas coisas: o caráter estudado do ataque, que o distancia da conduta aleatória de um desvairado mental, embora não se possa afastar de todo a possibilidade de que ele estivesse sob carga altíssima de sofrimento psíquico, por fatores diversos.

A segunda coisa é o despreparo das instituições para se resguardar de ataques do tipo, seja o Supremo ou o Legislativo e Executivo. Menos de dois anos após o 8/1, impressiona o desembaraço com que Luiz, cujo corpo era uma ameaça ambulante, chegou em vias de entrar no prédio do STF. Se não o fez, não foi por obra da eficiência das equipes de segurança, mas por mero acaso.

 

Foto do Henrique Araújo

Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?