Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
O réveillon de três dias era a principal marca do governo de Sarto, desfeita agora por obra do chefe do Paço, decisão que tende a respingar em seus aliados
Então candidato à reeleição, o prefeito José Sarto (PDT) antecipou o anúncio das atrações do réveillon deste ano, apresentando o line-up a poucos dias do pleito no primeiro turno. O gesto era claramente imbuído de interesse eleitoral. Afinal, não era a primeira vez que a festa de fim de ano era agenciada como instrumento de ganho de capital político às vésperas de uma corrida pelo voto - o evento anterior já se fizera sob a intenção de demonstrar força em ano decisivo.
Se havia dúvidas quanto a isso, o corte radical na programação, feito apenas ontem e divulgado pelo próprio gestor nas redes, evidencia o que se suspeitava. Ora, desde novembro ou mesmo antes que se sabia que a manutenção do formato atual, uma inovação bem-vinda de Sarto, demandaria uma articulação maior, que poderia ter sido encaminhada lá atrás, de modo a evitar os prejuízos tanto para o fortalezense, que mantinha expectativas em relação à data, quanto para o circuito turístico - sem falar na cadeia de negócios afetada pela decisão de desmantelar a grade, deixando de fora as principais atrações.
Trata-se de um tiro no pé, naturalmente. Por duas razões: mais que o "tijolinho", era o réveillon de três dias a principal marca do governo de Sarto, desfeita agora por obra do chefe do Paço. A outra é que o movimento do prefeito tende a respingar em seus aliados.
Histórico de controvérsias
O réveillon como se conhece é fenômeno relativamente recente em Fortaleza. Embora já se comemorasse antes de 2005 - sob parâmetros mais modestos -, foi apenas com Luizianne Lins (PT) que a festa ganhou o status de grande marco do calendário da cidade. Ao cabo de seus governos, contudo, LL também se viu envolvida em querela parecida com a de Sarto neste momento. O ano era 2012. Sem conseguir reeleger o sucessor (Elmano de Freitas), a gestora desincumbiu-se da tarefa de organizar os festejos do dia 31 de dezembro - na iminência da data.
Ante comoção na Capital, Cid Gomes, à época governador, farejou a oportunidade, tomando para si a missão, assegurando o réveillon e pavimentando bom início de governo para Roberto Cláudio. Corta para 2024: RC e Cid estão rompidos, Luizianne é deputada federal, Sarto foi derrotado ainda no primeiro turno e Elmano é governador do Estado - único entre esses atores com recursos suficientes (financeiros e políticos) para levar a cabo o exemplo de Cid.
O risco para Sarto
Convém dizer duas ou três coisas sobre a reta final da gestão municipal, que começa a emitir sinais preocupantes de que pode descarrilar na próxima curva. Entre atropelos e caneladas, o que se vê é péssimo não só para o prefeito. Afinal, o grupo pedetista que se agrupa em torno de RC, Sarto e Ciro Gomes deve ter pretensões políticas para além de 2024, a despeito dos reveses nas urnas deste ano e dos de 2022.
O perigo, então, é municiar adversários a tal ponto que não haja qualquer dificuldade para fazer prosperar a tese do desmonte e da herança maldita - muito por conta do lixo que se acumula e do aparente clima de barata boa que tem prosperado no Palácio do Bispo, algo semelhante ao desfecho da era Juraci.
Às voltas com uma transição problemática, Evandro Leitão ainda não se comprometeu publicamente com qualquer indicação para o secretariado, mas o mercado de apostas fervilha. Para a Cultura, por exemplo, circulam os nomes de Helena Barbosa, superintendente do Dragão do Mar, e João Wilson Damasceno, um dos diretores do Instituto Mirante, comandado por Tiago Santana - irmão do ministro Camilo Santana.
À sua maneira, ambos dialogam com setores do circuito artístico. Outro quadro no horizonte é o do deputado estadual Guilherme Sampaio (PT), ex-titular da Secretaria da Cultura do Estado e hoje membro da equipe de Evandro nesse processo de passagem de comando.
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