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O estilo Evandro começa a se revelar
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O estilo Evandro começa a se revelar

A composição do secretariado do prefeito eleito revela alguma semelhança com Elmano de Freitas há dois anos
Tipo Análise
Evandro Leitão desenha secretariado e o seu estilo (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Evandro Leitão desenha secretariado e o seu estilo

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O modo pelo qual Evandro Leitão (PT) vai montando seu secretariado permite uma ou outra aproximação com Elmano de Freitas (PT), ambos petistas, mas de tonalidades de vermelho diferentes - o prefeito recém-convertido e o governador, de uma formação de militância mais consistente, ligada ao MST.

Afora isso, os dois integram o mesmo projeto, que não é meramente a continuidade das gestões de Cid Gomes (PSB) e de Camilo Santana (PT), mas a primeira geração do "camilismo" como força política autonomizada - Elmano a partir de 2022 e Evandro, de 2024, um no Governo e outro na Prefeitura.

Eleitos sobretudo em razão do capital do hoje ministro, os gestores modelaram suas administrações em função da experiência anterior do ex-governador, referencial no horizonte. O novo chefe do Abolição, por exemplo, delineou o secretariado conservando núcleos importantes de poder, inclusive de Cid, mas principalmente de Camilo, sem que houvesse naquele início de trabalho uma marca própria, que apenas agora tem se esboçado (ainda com o ministro exercendo grande influência, materializada na presença de Chagas Vieira e de outros quadros).

Entre o Paço e o Abolição

Já Evandro vem buscando desde já conciliar a acomodação partidária, contemplando salomonicamente o arco de sustentação, com uma seleção de nomes de auxiliares cujo denominador comum é a combinação de conhecimento técnico, expertise política e estreita proximidade com o prefeito. Um desfile de homens brancos de meia idade, é verdade, mas as exceções estão aí para serem festejadas (Helena Barbosa na Cultura).

Eis, talvez, a maior diferença entre Elmano e Evandro até aqui: apesar de tudo, um grau maior de liberdade para montagem do seu primeiro escalão do que aquilo que se viu dois anos atrás no Executivo estadual, quer porque se trate de máquina municipal e não estadual, quer porque a vitória de Evandro nas urnas resultou menos da influência direta de Camilo do que no caso de Elmano, bem-sucedido ainda no primeiro turno e mais tributário do ministro, então candidato ao Senado naquele pleito.

A farra da Câmara

Os vereadores de Fortaleza decretaram uma farra de fim de ano antes do estouro dos fogos, generosamente concedendo-se aumento salarial (de R$ 19 mil para R$ 26 mil), sempre no apagar das luzes dos governos, e fazendo a boiada passar pelo que ainda resta de meio ambiente na capital cearense.

É curioso que os dois movimentos se deem ao mesmo tempo, ou seja, a agenda (votada às pressas) de autobenefício e o pacote de maldades que o Legislativo ajuda a avançar no âmbito local - enquanto a Assembleia vai dando de presente uma "chuva de veneno" ao eleitorado do Estado, fazendo as vezes de Papai Noel às avessas com o saco repleto de malvadezas.

Ex-prefeito Roberto Claudio (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares Ex-prefeito Roberto Claudio

RC no PSDB?

O ex-prefeito Roberto Cláudio estuda o cenário partidário antes de bater martelo sobre qualquer mudança. Há três hipóteses na mesa: seguir no PDT, sob a condição de que possa se manter na oposição e eventualmente concorrer ao Governo do Estado em 2026; migrar para o União Brasil de Capitão Wagner, com quem tem tido boas conversas depois das eleições deste ano, nas quais começou a ensaiar um blocão anti-Camlio; ou assinar a ficha de filiação do PSDB, gesto que seria de muito gosto do ex-senador e ex-governador Tasso Jereissati, ainda interessado em trabalhar para que a depauperada oposição ao ministro (a quem já chamou de "ditador de fazer Adauto ficar vermelho") chegue à próxima disputa estadual em condições menos desvantajosas do que as de 2022, quando RC enfrentou dificuldades de toda ordem, da briga interna no trabalhismo para se firmar à rasteira de Chiquinho Feitosa no tucanato cearense.

 

Foto do Henrique Araújo

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