Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Ex-titular da Secretaria da Proteção Social, Onélia compunha o Abolição até ontem, de modo que não seria de bom tom assumir a competência do exame do exercício administrativo de um político a quem era subordinada. Dito isso, já se sabia que a conselheira passaria por esse tipo de saia-justa, ou seja, que seria confrontada com o embaraço que é declinar da atribuição que constitui a razão de ser do TCE, isto é, julgar as contas dos gestores.
E talvez nem seja uma excepcionalidade, visto que as chances de esse cenário vir a se repetir são grandes. Por exemplo, não com o Executivo estadual, mas com prefeituras cujos chefes são aliados diretos do governador ou do ministro Camilo Santana (Educação), com quem Onélia é casada. Daí, quem sabe, uma certa demora na decisão de recusar a relatoria das contas do governo do petista, que poderia ter sido manifestada pela conselheira já durante a sessão.
De Santana para Leite
À guisa de curiosidade, convém observar uma alquimia em curso no TCE, que se refere à conselheira como Leite, e não Santana, sobrenome usualmente empregado para aludir à ex-secretária. Já com o novo figurino incorporado, o tratamento que lhe tem sido conferido é esse, de sorte a estabelecer um distanciamento entre as duas personas, digamos assim, demarcando uma mudança: não mais a integrante do condomínio governista, mas um quadro que se pretende técnico a atuar livre de amarras no tribunal.
Ao menos é isso que se espera, e da parte do TCE essa preferência pela nomenclatura de solteira é uma tentativa de blindar Onélia de qualquer associação com o ministro - uma tarefa difícil, da qual é prova o gesto da conselheira, que admite o laço com o bloco "elmano-camilista" como um elemento que se coloca entre ela e o objeto a se analisar mais friamente.
Wagner acerta os ponteiros
Ex-aspirante à Prefeitura de Fortaleza, Capitão Wagner (União Brasil) começou a pavimentar a estrada para 2026. Fora da Secretaria de Finanças de Pacajus, posto à frente do qual permaneceu por pouco mais de um mês, o dirigente deve se engajar na campanha nacional do UB, que considera lançar Ronaldo Caiado à Presidência.
Espécie de articulador, esse novo papel tende a facilitar seus planos de candidatura à Câmara daqui a um ano, afastando-o, contudo, do cenário mais local. Caso essa possibilidade se confirme, a oposição no Ceará teria um problema com o qual lidar: a falta de nomes para disputar o Abolição.
A preço de hoje, com Wagner e Roberto Cláudio (PDT) postulando cadeira de parlamentar e André Fernandes (PL) sem idade para competir, a ala adversária de Elmano correria o risco de perder por W.O.
Cid engrossa o PSB
O senador Cid Gomes fez saber que filia ao PSB a leva de deputados estaduais e suplentes no dia 7 de fevereiro, em evento na Assembleia Legislativa, a esta altura já sob nova direção (Romeu Aldigueri será empossado no dia 1º de fevereiro, ao que consta um sábado, por sinal).
De pronto, a legenda do ex-governador se torna uma das forças mais expressivas da Casa e fiel da balança da governabilidade de Elmano. Em um ano pré-eleitoral, e com Cid ainda reticente quanto a seu futuro político, a agenda será imediatamente lida como demonstração de protagonismo do senador, cuja relação com o Abolição costuma oscilar entre um silêncio desconfiado e uma adesão inconvincente.
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