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Evandro acusa Sarto de "sangrar" caixa da Prefeitura
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Evandro acusa Sarto de "sangrar" caixa da Prefeitura

O ex e o atual prefeito entregaram ao TCE relatórios divergentes em dados e conclusões sobre a situação de Fortaleza em relação ao valor dívida e de servidores, por exemplo
JOSÉ Sarto (PDT) ex-prefeito, e o sucessor Evandro Leitão (PT) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA JOSÉ Sarto (PDT) ex-prefeito, e o sucessor Evandro Leitão (PT)

A equipe do prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), apresentou relatório de transição ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) com detalhes sobre o quadro fiscal deixado pelo então gestor José Sarto (PDT). De acordo com o documento, "o saldo bruto de caixa (do Paço) de 2023 era de R$ 1.623.973.512,18 e em 2024 reduziu para R$ 697.047.803,72, correspondendo a uma redução de 57%".

Ou seja, no último ano de governo, Sarto teria "sangrado" os cofres do Executivo em mais da metade de seu total. Ainda conforme o levantamento, "a análise dos relatórios demonstra que a real condição administrativa, financeira e operacional do município era substancialmente diferente da apresentada pela gestão passada".

Em seguida, à guisa de exemplo, cita dados sobre "a Despesa de Exercícios Anteriores (DEA), cujo valor total soma R$ 296.735.275,01". O material também faz alusão aos precatórios devidos, que chegam a R$ 65.807.927,26 e, nos termos do relatório, são valores que "não haviam sido apresentados de forma clara na documentação entregue pela gestão anterior, comprometendo a exata avaliação das obrigações financeiras pendentes e impactando diretamente o planejamento orçamentário para o exercício de 2025".

Sarto rebate Evandro

Em seu diagnóstico, o ex-prefeito rebateu Evandro. Para Sarto, "o novo governo contará com uma gestão fiscal equilibrada" e "recursos financeiros garantidos para manter o nível de investimentos". No documento, que tem 68 páginas e foi encaminhado ao TCE, o pedetista garante que o cenário ao fim do mandato é de "serviços públicos ampliados e arcabouço tecnológico que proporcionará aos gestores viabilidade para desenvolver as ações necessárias".

Na conclusão, Sarto considera que "a atual gestão (do ex-prefeito) vivenciou dois anos da maior crise econômica, política e sanitária do Brasil". Na sequência, o relatório alfineta Evandro ao afirmar que o novo prefeito terá como principal desafio "estratégico e operacional" alcançar "sustentabilidade financeira e recursos", avaliando que o petista precisará dispor de articulação para "regularização de pendências de repasses estaduais".

Problema com os terceirizados

Evandro está às voltas com um problema desde que anunciou corte de 30% dos terceirizados. Como as empresas que mantinham contrato com a administração não haviam sido pagas, acabaram por adiar as demissões, que só seriam levadas a cabo mediante quitação das dívidas. A demora, evidentemente, compromete parte do efeito do pacote de corte de gastos anunciado pelo chefe do Palácio do Bispo.

Dos 15.025 terceirizados da Prefeitura, 5.922 estão na Secretaria Municipal de Educação (SME), 2.322 na Saúde (SMS), 1.270 na pasta de Desenvolvimento Social (SMDHDS) e 879 no IJF. Durante o mandato de Sarto, as despesas com terceirização escalaram: R$ 533 milhões (em 2021), R$ 621 milhões (em 2022), R$ 715 milhões (em 2023) e R$ 659 milhões (em 2024).

Barbárie em Recife

Embora evite sair do campo da política, considero que a barbárie de Recife se impõe a quem quer que se preocupe com o futuro do esporte, das cidades, do país. O que se viu na capital pernambucana, um estupro que resultou no assassinato de um líder de torcida no meio da rua, é a confirmação de que o futebol hoje é uma encenação violenta e masculinista, com clubes e torcidas frequentemente amalgamados.

Disso não se conclua apressadamente que culpo os times. Mas que as facções de torcedores se autonomizaram no vácuo de uma relação promíscua entre diretorias e essas organizações. O episódio, de resto inclassificável pelo que contém de desumano, leva a pensar não somente sobre o fracasso da segurança, mas no emprego da violação do corpo como mecanismo de domínio. Ora, o estupro ali é uma ferramenta de subjugação desse outro; logo, de imposição da força.

 

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