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Virgínia Fonseca transforma CPI em "collab" com senadores
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Virgínia Fonseca transforma CPI em "collab" com senadores

Virgínia é inteligente, ao menos muito mais do que a média naquele espaço de gente eleita para representar os interesses públicos, mesmo aqueles para quem o Legislativo significa apenas um peso no bolso dos brasileiros
 Influenciadora Virgínia Fonseca participa da CPI das bets, no Senado (Foto: Marcos Oliveira)
Foto: Marcos Oliveira Influenciadora Virgínia Fonseca participa da CPI das bets, no Senado

Com a autoconfiança de mulher jovem, milionária e com mais de 50 milhões de seguidores no Instagram, Virgínia Fonseca, 26, não estava brincando quando anunciou antes de a sessão da CPI das bets no Senado começar: “Bora pra cima”.

Houve gargalhadas na sala, mas não de ironia. Talvez de desconcerto, tal como no meme “rindo de nervoso”.

Mas por que o sobressalto dos nobres parlamentares diante de uma garota trajando moletom com o rosto da filha estampado e uma frase graciosa, usando óculos tipo colegial e com trejeitos que faziam lembrar os de Bridget Jones, estudadamente descuidados (ela chegou a confundir o microfone com o canudo do copo Stanley rosa)?

Porque Virgínia maneja habilmente uma arte na qual os congressistas patinam: vender-se para o público das redes.

Não foi por outra razão que a empresária de sucesso e carreira impecável (salvo os trabalhos com essa máfia das apostas, mas já chegamos nisso) travestiu-se de mãe solo que acumula o cuidado com a prole e as tarefas da casa e que saíra em disparada do lar sem que houvesse tempo sequer para se pentear, ajeitando-se no caminho, como de fato fazem muitas mulheres no país.

Virgínia é inteligente, ao menos muito mais do que a média naquele espaço de gente eleita para representar os interesses públicos, mesmo aqueles para quem o Legislativo significa apenas um peso no bolso dos brasileiros.

Ela sabia de antemão, como qualquer um notaria de imediato, que precisaria performar uma imagem que se contrapusesse à da influenciadora amoral que havia faturado uma grana alta com a desgraça alheia em meio à febre dos jogos viciados e à bancarrota das famílias.

Para tanto, combinou simplicidade no vestir com uma postura arrojada, disposta ao confronto, sem qualquer zelo pela liturgia dos cargos ou pela formalidade dos ritos.

À relatora, por exemplo, referiu-se incontáveis vezes pelo primeiro nome, dispensando qualquer forma de tratamento adequada à situação, sobretudo o usual “excelência” de quem entra ali temendo ser preso caso cometa algum deslize.

Mas não Virgínia, que já foi recepcionada na CPI como celebridade ao lado do marido, o cantor (?) Zé Felipe, o ar descontraído de quem tinha sido agenciada para promover um produto durante uma live ou participar de alguma “collab” com uma marca famosa interessada em tê-la como estrela a quem se vincular.

A marca, no caso, era o Senado. Para ela, não havia diferença, no entanto, desde que algo pudesse ser monetizado, maximizando os ganhos, de modo a  não perder a viagem.

Não demoraria, então, para que a jovem convertesse em #publi uma audiência de caráter investigativo da qual participava como testemunha de um esquema considerado por especialistas como um problema grave sob o ponto de vista econômico e de saúde pública.

Ao final, deixou-se fotografar ao lado de Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI, e Hiran Gonçalves (PP-RR), presidente do colegiado.

Compartilhado nas redes da própria Virgínia, o registro do momento foi seguido de um desabafo aparentemente sincero: “Só tenho a agradecer a todo mundo do Senado, me senti super acolhida, super respeitada”.

Foto do Henrique Araújo

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