Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A esta altura, o almoço entre o governador Elmano de Freitas (PT) e o senador Cid Gomes (PSB) caiu no domínio público, não se sabe se por concordância de ambos ou se de apenas uma das partes - ou à revelia do desejo dos dois, ou de um dos dois, pelo menos. Afinal, não se mantém uma agenda dessa natureza à toa. Cercada de cautelas, sem terceiros em cena, sequer o chefe da Casa Civil do Abolição, sempre tão intimamente enfronhado com os assuntos palacianos. O que isso tudo diz? Primeiro, o óbvio, ou seja, que há temas em relação aos quais as lideranças de peso se reservam o direito de tratar apenas com outras lideranças de peso, sem demérito para ninguém. Era o caso? Parece que sim. Mas, se sim, por que cargas d'água vazar somente o fato de que o petista e o pessebista sentaram à mesma mesa para uma conversa amistosa, conforme relatos à coluna, possivelmente sobre a renovação de votos de aliados e sobre a formação da chapa para 2026, mas sobre a qual talvez pairasse a necessidade de deixar as coisas um tanto mais às claras?
Fumaça preta ou branca?
É justamente essa urgência que pôs Elmano e Cid lado a lado que faz disparar o sinal de que, entre eles, há ainda esse tipo de interlocução que tem de ser costurado ali, no tête-à-tête, sem ninguém por testemunha à exceção do chefe do Executivo e do ex-governador, uma semana depois da aparição rumorosa do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) no cenário local. Mais: que, a despeito do clima de conclave que rondou a tratativa, soube-se até facilmente (me pergunto se intencionalmente, embora já saiba a resposta) que Cid havia estado na sede do governo para ter com o gestor estadual sobre projetos de interesse do bloco para o ano que vem, o que tornaria sem fundamento essa boataria sobre rompimento. Some-se a isso o disse-me-disse a respeito das pretensões de Ciro, e tem-se um quadro confuso a um ano e meio da eleição, com desconfianças mútuas alimentadas em fogo brando.
Colégio de cardeais petistas
Embora haja acordo para que Antônio Conin Filho seja reconduzido à presidência do PT no Ceará, as coisas dentro do partido se dão numa espécie de "guerra fria" entre os grupos do deputado federal José Guimarães e do ministro Camilo Santana (Educação). Explico: houve entendimento entre as partes de que Conin é nome que pacifica a legenda (até onde o petismo pode ser pacificado, claro) e que sua indicação é o melhor para todos neste momento, sobretudo para o parlamentar, a quem ele é ligado. Mas as duas alas (o Campo Democrático, de Guimarães, e o Campo Popular, que orbita Camilo) tendem a apresentar chapas separadas para a composição do diretório, isto é, vão para a queda de braço pelo voto. Trocando em miúdos: mesmo com o acerto em torno de Conin, o "camilismo" disputa espaço com o setor majoritário dentro da instância partidária, alterando a balança de poder.
Uma faca de dois gumes
A benemerência de Elmano com a PM, devolvendo-lhe o Hospital José Martiniano de Alencar, pode se revelar um tiro no pé ou um gol de placa, a depender do ponto de vista e de sua repercussão política. Exclusiva para o atendimento de policiais até 2011, quando foi remanejada para o SUS pelo então governador Cid Gomes, a unidade deve retornar para a gestão dos militares agora, noves fora os apelos do MPF e do MPCE. Como se explica isso? Não é preciso morar no número 221B da rua Baker Street para entender que se trata de mais um dos muitos acenos do Governo às tropas num ano pré-eleitoral, de modo a evitar um erro cometido por Cid lá atrás, qual seja, o de subestimar a insatisfação das polícias (naquele mesmo 2011 estouraria o motim). Esse é o copo meio cheio.
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