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As pedras no caminho de Roberto Cláudio
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

As pedras no caminho de Roberto Cláudio

O ex-prefeito de Fortaleza será candidato mesmo se o PL não topar aliança com RC na "cabeça" de chapa para o Governo do Estado em 2026?
Tipo Análise
JAIR Bolsonaro e Roberto Cláudio: incertezas para a chapa para o Governo do Estado em 2026 (Foto: Marcello Casal Jr (Agência Brasil)/Fernanda Barros  (O POVO))
Foto: Marcello Casal Jr (Agência Brasil)/Fernanda Barros (O POVO) JAIR Bolsonaro e Roberto Cláudio: incertezas para a chapa para o Governo do Estado em 2026

Faça-se o seguinte exercício: e se o PL não topar aliança com Roberto Cláudio na "cabeça" de chapa para o Governo do Estado em 2026, seja por quais razões forem, o ex-prefeito de Fortaleza será candidato mesmo assim? Isso na condição de RC se filiar ao União Brasil, claro, e não ao próprio PL, hipótese que não se pode descartar de todo, a despeito dos sinais emitidos até agora. A pergunta não é retórica. Embute sentido prático, que tem relação com uma declaração de Jair Bolsonaro quando de sua passagem por Fortaleza dias atrás. Referindo-se a RC, o ex-presidente declarou: "Eu sei que ele está apoiando o Ciro". Trata-se de frase dúbia, que abriga ao menos duas interpretações: sim, Bolsonaro sabe que RC é aliado de Ciro Gomes, mas, apesar disso, está disposto a uma composição que tenha o cearense como concorrente chancelado pelo PL. Ou: sim, Bolsonaro está ciente de que Roberto é próximo de Ciro, potencial candidato ao Planalto (a depender do desenho das nuvens), o que teria reflexos no Ceará, gerando insegurança para essa parceria.

RC entre cirismo e bolsonarismo

Para Bolsonaro, então, é de se imaginar que a variável "Ciro" seja um elemento complicador para esse "casamento", que já começaria com suspeitas de traição. A preocupação desse grupo é a seguinte: na eventualidade de Ciro postular a Presidência, o palanque de RC seria do ainda pedetista ou do nome escolhido por Bolsonaro? Em suma, RC se manteria mais fiel a Ciro ou honraria os compromissos assumidos com esse novo bloco? A resposta a essa sinuca de bico hoje parece fácil: Ciro não é candidato a nada; logo, RC está desimpedido. Mas, como se sabe, as posições do ex-ministro costumam não apenas ser flexíveis, mas imprevisíveis. De modo que não seria propriamente uma surpresa se, lá na frente, ele revisse seu papel na corrida eleitoral, criando um embaraço local para o aliado, que se veria dividido entre o "cirismo" e o "bolsonarismo". A esta altura das articulações, RC já deve ter notado que está diante de escolhas que não comportam meios termos: suas chances de representar o campo da direita dependem de um arranjo com "pacote completo".

Direita unida ou rachada?

Há outras pedras no caminho de uma candidatura de Roberto Cláudio, no entanto. Uma delas é a dificuldade para que essa engenharia político-eleitoral entre RC/PL/União/Novo se viabilize em tempo tão curto, mesmo levando-se em conta que essa ala se constituiu no 2º turno das eleições em Fortaleza, em 2024. Ocorre que - e isso o senador Eduardo Girão deve deixar mais explícito - existe um passivo de atritos entre esses atores que agora se empenham em superar divergências. Em bom português: noves fora o pragmatismo do deputado federal André Fernandes (PL), mais interessado em eleger o pai como senador, uma fatia da oposição e do eleitorado pode processar mal essa novidade, isto é: um ex-pedetista, só há pouco rompido com o PT, encabeçando a chapa conservadora na primeira eleição depois da quase vitória na Capital em 24.

Desafio pela frente

Retomo a questão inicial: se o PL não aceitar os termos da relação com RC para o Governo, quer por dificuldades locais, quer por veto nacional, ele entra na disputa como candidato do União Brasil? Nesse cenário, o campo da direita sairia pulverizado novamente, tal como fez noutras eleições recentes e perdeu, com possibilidade inclusive de dispersar o voto mais fiel e facilitar uma vitória de Elmano - com o agravante de que não haveria um fenômeno do tipo Fernandes para forçar a briga num 2º turno. Ou seja, embora se trate de uma construção cheia de complexidades, a coesão do bloco de Capitão Wagner, RC, Fernandes e Girão no Ceará é a única alternativa viável eleitoralmente para o grupo.

 

Foto do Henrique Araújo

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