Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
O deputado federal Júnior Mano (PSB) tem vencido resistências internas a seu nome no bloco governista, notadamente dentro do Governo do Estado. Segundo aliados ouvidos pela coluna, o parlamentar, cotado para vaga no Senado pelas mãos de Cid Gomes (PSB), aos poucos vai se cacifando para a corrida eleitoral do ano que vem. Um elemento tem pesado dentro e fora do seu partido: os prefeitos mobilizados no interior cearense, moeda de troca na queda de braço que Cid vem travando com o também deputado José Guimarães (PT), ele mesmo possível concorrente a senador. A ambos interessa ampliar a representação partidária na bancada congressual em 2026, de modo a conferir musculatura a PSB e PT, respectivamente. Como parte desse esforço, Cid apresentou a pré-candidatura de Mano, que foi incialmente rejeitado por lideranças da base. Esse cenário, porém, está se alterando gradativamente, seja porque as razões de Cid pareceram justas com o tempo, seja porque a busca pela reeleição de Elmano de Freitas (PT) chegou a projetar precipitadamente uma oposição fragmentada e sem um quadro competitivo entre os adversários. O que se vê, todavia, é o contrário: uma formação mais coesa em favor de um político experimentado (Roberto Cláudio) e que, a depender do arranjo nacional, pode entrar na briga pelo voto com mais armas do que o exército governista supunha até então.
Curva perigosa na estrada
Esse reequilíbrio de forças não se dá sem tensões, claro. Veja-se o caso de Cid. O fato de que o campo anti-PT no Ceará tenha se recomposto em torno do condomínio União Brasil/PL, com possibilidade de chapa única e chances de capital financeiro e de propaganda proporcionalmente maiores, encarece o passe do senador, que ainda se mantém fiel ao projeto de recondução do chefe do Abolição. Daí os sucessivos acenos ao ex-governador, do ministro Camilo Santana ao próprio gestor do Executivo estadual, passando por dirigentes de siglas da base, que fazem lembrar sempre que se trata de uma costura com desgaste de material. No ar, persiste a preocupação - um receio não infundado, diga-se - de que o aliado se convença de que há mais a ganhar do outro lado do balcão do que deste. Tudo somado e dividido, então, essa antecipação de articulações se encarrega de dinamitar algumas pretensões, que vão se tornando de difícil execução à medida que o ambiente político-eleitoral se reconfigura.
Chagas x Carmelo
Entre as tarefas que desempenha na gestão estadual, o secretário Chagas Vieira (Casa Civil) se incumbiu de fazer esse primeiro enfrentamento com figuras da oposição, tais como Capitão Wagner (União) e Carmelo Neto (PL), com quem passou a duelar nos dias que se seguiram ao "match" de Roberto Cláudio com o bloco de direita no Ceará. Trata-se de estratégia já consolidada. Da parte de Chagas, é inteligente que queira estabelecer um cordão sanitário em volta de Elmano, que ficaria assim imune desses golpes mais diretos e livre do trabalho de rebater as críticas. Quanto à oposição, soa improdutivo empregar essa energia contra um adversário que, nesses entreveros, tem muito mais a ganhar do que a perder.
Poliamor eleitoral
Gonzaga Mota talvez fizesse hoje um acréscimo a sua máxima tão maltratada: além de dinâmica, a política é afrodisíaca. Sintoma disso é essa gramática partidário-amorosa que dominou os discursos de lideranças locais nos últimos dias, abusando de toda sorte de analogias com casamentos, namoros, noivados e paqueras, mas sem mencionar o principal: o que tem regido essas relações é, no fundo, uma modalidade de poliamor eleitoral, e não a monogamia.
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.