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O que a foto de Camilo e Cid não mostra
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

O que a foto de Camilo e Cid não mostra

Faltava algo assim aos governistas, fotografados aos pares ou aos trios, mas quase nunca em quinteto, como se viu ali, no que pareceu o núcleo decisório na montagem das articulações
Tipo Opinião
EVANDRO Leitão (PT), Cid Gomes (PSB), Elmano de Freitas (PT), Camilo Santana (PT) e Chagas Vieira se reuniram no sábado, 7. Encontro foi compartilhado nas redes sociais (Foto: Reprodução/Instagram)
Foto: Reprodução/Instagram EVANDRO Leitão (PT), Cid Gomes (PSB), Elmano de Freitas (PT), Camilo Santana (PT) e Chagas Vieira se reuniram no sábado, 7. Encontro foi compartilhado nas redes sociais

O governismo no Ceará se viu na obrigação de mostrar unidade depois dos movimentos da oposição nas duas últimas semanas, com forte repercussão no noticiário e nas projeções para 2026. Em torno da mesa do encontro palaciano no fim de semana, estavam o governador Elmano de Freitas, o ministro Camilo Santana, o prefeito Evandro Leitão, o senador Cid Gomes e o secretário Chagas Vieira, único não mandatário na reunião. O que a foto não revela, contudo, é o critério de escolha dos personagens e, mais importante, o "timing" político da rodada, que se seguiu a uma conversa entre Elmano e Cid menos de um mês atrás. No entanto, lá estava o ex-governador novamente, secundado por um Evandro igualmente à vontade e diante de um Camilo em aparência contente. À cabeceira, fazendo jus ao cargo, um Elmano mais grisalho do que três anos atrás. Em princípio, é uma imagem produzida para suprir uma lacuna que os oposicionistas vinham explorando, qual seja, a da coesão partidária e do alinhamento. Faltava algo assim aos governistas, fotografados aos pares ou aos trios, mas quase nunca em quinteto, como se viu ali, no que pareceu o núcleo decisório na montagem das articulações. O que se discutia? A esta altura, muitas variáveis frequentaram as anotações. O mais importante, porém, é menos o que se diz e mais o que se quer transmitir, aos adversários e aos aliados.

As lacunas de uma chapa

Trata-se, primeiro, de atenuar qualquer ruído que se tenha espalhado em torno da estabilidade nas relações entre Cid, o governador e Camilo - é um "casamento" cujos votos são renovados semanalmente, como o leitor desta coluna há de ter percebido. Assim, o recado inicialmente é para consumo interno na base: acalmem seus corações, a aliança está assegurada, salvo qualquer sinal em contrário. A captura desse instante entre o formal e o informal, com Camilo habitualmente trajando seu uniforme branco de gestor e Cid em mangas de camisa, cumpre a finalidade de demonstrar que daquele lado também prospera a concórdia. E assim se chega ao segundo ponto: o momento. A agenda do quinteto se destina ainda a cutucar a oposição, que pode vislumbrar ali o que a espera na próxima eleição: a tradução do "Ceará três vezes mais forte", ao qual se soma Cid. É, portanto, fotografia feita para contrastar com as que o bloco de Roberto Cláudio, Capitão Wagner e André Fernandes vem fazendo.

Chagas cotado, mas para quê?

Um outro aspecto do retrato é a posição hoje ocupada por Chagas Vieira. Como chefe da Casa Civil, exerce inegável protagonismo nas estratégias do grupo para o pleito, mas a ponto de necessariamente juntar-se a Camilo, Cid, Evandro e Elmano numa mesa? Se se disser que não, seria negligenciar seu papel de proeminência no governo. Se sim, que se está exagerando sua influência. Como meio termo, fica estabelecido o seguinte: Chagas é um mediador importante para a reeleição de Elmano - talvez mais que isso, podendo ter função de mais destaque. Fala-se no Senado, por exemplo, mas um dos destinos possíveis para o secretário seria uma vice, como ouvi de interlocutor entre apreensivo e interessado.

Camilo fora do MEC

O ministro da Educação tem dito a um e outro conselheiro mais próximo que deve se afastar do MEC em abril do ano que vem, seja para restar como alternativa ao Governo do Estado (na hipótese de candidatura ao Abolição de um Ferreira Gomes, não se sabe qual), seja para compor a lista de presidenciáveis à disposição caso Lula não esteja em condições físicas de concorrer à reeleição. É uma decisão já pacificada. Daí certa pressa de Camilo também para aviar obras e outros compromissos assumidos à frente da pasta.

 

Foto do Henrique Araújo

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