Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Entre um PDT tonificado e um PSB "cidista" anabolizado, como ficará a repactuação da aliança que dá sustentação ao governador Elmano de Freitas
Foto: Thais Mesquita 21/1/2022
FACHADA do Palácio da Abolição, sede do governo do Ceará
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O retorno do PDT à base do bloco liderado pelo ministro Camilo Santana (Educação) no Ceará vem impondo uma repactuação da aliança que dá sustentação ao governador Elmano de Freitas (PT). Veja-se o caso dos deputados estaduais pedetistas, por exemplo. Os alinhados com a oposição naturalmente migrarão para um partido adversário do Abolição, tal como União Brasil, PSDB ou mesmo PL, num movimento cujo resultado será o esvaziamento do trabalhismo na Assembleia Legislativa (Alece).
E aí entram Camilo e Elmano. Como parte do acerto com a legenda, os petistas devem operar para auxiliar a sigla brizolista a se recompor no Estado, tanto porque interessa ao chefe do Executivo que a força se restabeleça, quanto porque um PDT tonificado compensaria um PSB "cidista" anabolizado, mas sobre o qual não haveria tanto controle – a despeito de a direção estar nas mãos de Eudoro Santana.
Explico. O senador Cid Gomes tem articulado uma chapa pessebista para 2026, é verdade, mas notavelmente composta por quadros de sua confiança. Gente próxima, a exemplo de Júnior Mano e de um ou outro candidato a deputado federal. Se eleitos, não há dúvida de que estariam em dívida mais com o ex-governador do que com o partido.
O pêndulo do Abolição
Por que isso importa a esta altura? Porque a participação de Cid na campanha do ano que vem segue sendo um enigma. Sabe-se que apoiará a reeleição de Elmano, conforme já disse. Mas não se efetivamente estará no palanque ou se pedirá votos.
Tampouco há segurança quanto à disposição de Cid para postular vaga no Senado, no que ajudaria a chapa majoritária – por ora, as sinalizações do Ferreira Gomes são de que sua chancela a Júnior Mano se mantém inabalável, mesmo com a PF batendo à porta do escritório e do apartamento do deputado dia sim e outro não.
Tudo somado, instala-se a pulga atrás da orelha do entorno de Elmano – e se eventualmente Ciro Gomes (PDT) se apresentar como desafiante ao Governo, como se comportaria Cid conduzindo essa bateria de prefeitos para os quais Mano é como Moisés abrindo o Mar Vermelho? Na dúvida, então, não custa nada empoderar o PDT, nem que seja para que se coloque como alternativa de filiação de congressistas que fatalmente terão de deixar a federação entre União Brasil e PP. É um equilíbrio entre os pratos da balança.
Distribuição das cartas
Daí a possibilidade de que os deputados ainda pedetistas permaneçam na agremiação, sobretudo aqueles sob a esfera de influência do governismo (estadual ou municipal). É o caso de Idilvan Alencar ou de Mauro Filho, para citar apenas dois. Hoje titular da Educação em Fortaleza, Idilvan é mais "camilista" que "cidista", não havendo razão para trocar o número 12 pelo 40 na próxima disputa eleitoral, já que o partido caminha para se incorporar ao condomínio palaciano mais uma vez.
O mesmo vale para Mauro, um habilidoso leitor do tectonismo político, local e nacional. Entre um e outro movimento, portanto, é possível que uma intervenção mais discreta do Executivo acabe por reter uma parcela das desfiliações que já estavam precificadas no PDT.
A hora de Chagas
E há um capítulo à parte: o ingresso de Chagas Vieira num dos endereços partidários do arco de apoio a Elmano. Estão na mesa PDT, PSB, PT ou PSD, este figurando mais remotamente como potencial destino do chefe da Casa Civil do Estado. Se fosse apostar, arriscaria o PSB, mas não descartaria o PDT, a depender de como o cenário da corrida se apresente em 2026 – especialmente se se considerar que Chagas é hoje cotado para o Senado e também para candidato a vice-governador.
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