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"Bolsonarização" de Tarcísio é desafio para Ciro Gomes
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

"Bolsonarização" de Tarcísio é desafio para Ciro Gomes

Para o chefe do Executivo paulista, o cálculo é simples: sem essa base que orbita Jair Bolsonaro (PL), não teria condições de se viabilizar eleitoralmente
 Ex-presidenciável Ciro Gomes, do PDT (Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO)
Foto: Daniel Galber/Especial para O POVO Ex-presidenciável Ciro Gomes, do PDT

A adesão escancarada de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à retórica bolsonarista evidencia que o governador de São Paulo entendeu a necessidade de pagar desde agora essa taxa de conversão política se quiser de fato ter os votos dos aliados do ex-presidente na corrida presidencial de 2026.

Para o chefe do Executivo paulista, o cálculo é simples: sem essa base que orbita Jair Bolsonaro (PL), não teria condições de se viabilizar eleitoralmente ano que vem.

Logo, é possível que considere abrir mão de um eleitorado mais ao centro ou moderado na disputa, mas não da fatia radicalizada que representaria entre 15% e 20% do eleitorado.

E, se realmente tem de fazer esse movimento em direção ao núcleo duro do conservadorismo (ou da extrema-direita, caso se queira), tanto melhor se for agora, quando uma decisão se impõe na encruzilhada do julgamento de Bolsonaro, e não apenas em 2026, às vésperas do pleito, quando a pecha de oportunista lhe seria fatalmente endereçada.

Há obstáculos pela frente, sem dúvida. Um deles é o desgaste já contratado com as instituições, notadamente com o STF, ao assumir o figurino de nêmesis do ministro Alexandre de Moraes.

Tarcísio sabe disso, mas resolveu apostar que ou consegue calibrar o grau de ferocidade no discurso até a campanha ou que, quando a eleição chegar, o centro não terá opção de candidatura, exceto essa plasmada no bolsonarismo da qual ele é o cotado com mais potencial hoje.

O gesto de Tarcísio no 7 de setembro ajuda a pensar as dificuldades de Ciro Gomes (PDT) para operar essa mesma mudança no discurso Ceará. Dele não se exige sequer esse rito de passagem para uma versão bolsonarizada, mas apenas que reduza o nível de beligerância contra Bolsonaro em suas manifestações públicas.

Ciro, no entanto, não tem tido sucesso nessa seara. O que só reforça o tamanho do desafio do campo opositor cearense na hipótese de o ex-governador do Estado se tornar postulante à sucessão de Elmano de Freitas (PT).

Por ora, não se nota em Ciro a mesma disposição de Tarcísio para incorporar o vestuário bolsonarista. Pelo contrário, o ex-ministro sempre fez questão de estabelecer um corte entre os âmbitos políticos nacional e local, como se pretendesse para si uma salvaguarda para continuar distribuindo bordoadas tanto em Lula quanto em Bolsonaro. É esse pacto que a direita parece rejeitar.

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