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Bolsonaro condenado muda jogo no Ceará
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Bolsonaro condenado muda jogo no Ceará

Há quem compare a situação do capitão reformado com a de Lula, quando foi sentenciado e preso, ainda em 2018, sugerindo que o ex-presidente se manterá decisivo em 2026. Não é bem assim e explico o por quê
EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro foi condenado à prisão pela Primeira Turma do STF (Foto: Mateus Bonomi/Estadão Conteúdo)
Foto: Mateus Bonomi/Estadão Conteúdo EX-PRESIDENTE Jair Bolsonaro foi condenado à prisão pela Primeira Turma do STF

Embora fosse já em alguma medida previsível que Jair Bolsonaro (PL) seria condenado no STF por encabeçar uma tentativa de golpe de Estado, o fato em si obriga a antecipar suas consequências políticas e eleitorais, que não são poucas.

Há quem compare a situação do capitão reformado com a de Lula, quando foi sentenciado e preso, ainda em 2018, sugerindo que o ex-presidente se manterá decisivo em 2026 na definição da candidatura do seu campo.

Isso é apenas parcialmente verdadeiro. Explico por quê. Primeiro porque Lula, mesmo cumprindo pena na carceragem da PF, tinha um grau de ascendência sobre o seu partido, o PT, e de modo geral sobre o bloco de esquerda, que dificultava qualquer tipo de movimento que não passasse necessariamente por ele.

Com o PL e Bolsonaro, no entanto, as coisas devem se dar de maneira diferente, tanto porque o partido do ex-mandatário não se organiza com igual nível de hierarquia do PT, quanto porque o dirigente da sigla é o pragmático Valdemar da Costa Neto, que, já agora, sonha com a postulação de Tarcísio de Freitas.

A estratégia do "Lula livre"

Em 2018, Lula seguiu na cédula de votação, a despeito de sua inelegibilidade, sendo trocado apenas no limite do prazo legal, quando foi barrado pela Justiça Eleitoral e substituído pelo vice, Fernando Haddad - um ótimo nome para perder aquela disputa contra o deputado federal do baixo clero, depois alçado ao Governo.

Tudo transcorreu, então, conforme o ex-presidente petista determinara. Essa estratégia será copiada pelo entorno de Bolsonaro na corrida do ano que vem, com o ex-chefe da nação na cabeceira da chapa e Tarcísio de vice? Tenho minhas dúvidas, por alguns motivos, um dos quais é esse sobre o qual já falei: o controle que Lula exercia sobre o seu espectro ideológico era maior do que aquele que o militar da reserva detém sobre o PL e sua vizinhança.

O centrão são muitos

Basicamente, aquilo que se convencionou chamar de centrão é uma nebulosa conformada por muitos interesses e lideranças, para as quais o futuro pode significar uma candidatura de Tarcísio, sem dúvida. Mas também de Ratinho Júnior (PSD), Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União) - ou, quem sabe, Flávio Bolsonaro, já que Eduardo está em tese fora do páreo.

Contrariamente ao que houve no campo esquerdista no pleito de sete anos atrás, portanto, no da direita é possível que se veja uma fragmentação, na hipótese de Tarcísio não concorrer, ou uma reorganização das forças em torno do governador de São Paulo, mas sem a digital mais forte de Bolsonaro, a esta altura em regime fechado, sem poder efetivo de articulação - e sem controle de fato da máquina do PL.

Nesse cenário, Valdemar estará numa encruzilhada: apostar na farsa de que Bolsonaro é viável ou partir de imediato para robustecer composição com outro nome.

Bolsonaro está preso, babaca

Até 2026, muita água vai rolar sob a ponte, mas esse cenário no qual o bolsonarismo estaria com capital reduzido não pode ser descartado, uma vez que os principais agentes do clã (pai, esposa e filhos) podem estar pulverizados e acéfalos, com Eduardo nos EUA, Carlos no Rio de Janeiro e Flávio isolado no PL.

Uma tal conjuntura fragilizaria o discurso petista de polarização, que caducaria na arena pública, perdendo força como ferramenta de convencimento de um eleitorado que se habituou a votar em Lula por medo de ver Bolsonaro voltar ao poder.

Com o ex-presidente ausente do jogo, estará mais difícil emplacar essa tese, principalmente se for para fazer colar a toxicidade do bolsonarismo em adversários sem relação direta com o ex-presidente - seria o caso de Ratinho Jr. no âmbito nacional, por exemplo, ou de Ciro Gomes (PDT) no local, mas sobre isso falo depois.

 

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