Foguetório das facções inflama discursos e antecipa 2026
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Foguetório das facções inflama discursos e antecipa 2026
Mesmo o opositor mais ferrenho ao Abolição não há de negar que hoje há um progressivo investimento público em policiamento, pessoal e tecnologia
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Queima de fogos havia sido combinada por integrantes da facção Comando Vermelho para celebrar domínio da comunidade do Lagamar
O foguetório das facções criminosas em Fortaleza inflamou a base do governo de Elmano de Freitas e a oposição, precipitando um debate sobre 2026, seja pela negação do caráter também político do tema, seja pela sua reafirmação. Nas redes e nas tribunas do Legislativo, governistas recorreram à mesma estratégia discursiva, qual seja, o fenômeno da criminalidade é eminentemente nacional, a exemplo do que se vê em São Paulo, onde o delegado-geral da Polícia Civil foi assassinato supostamente a mando do PCC.
O argumento é válido só até a página 2, principalmente porque, para quem mora nos bairros Lagamar e Vicente Pinzón ou em Maranguape e Caucaia, na Região Metropolitana, interessa bem pouco situar sociológica e historicamente a raiz da problemática. Logo, dizer que se trata de desafio nacional não ajuda a resolvê-lo, tampouco a produzir sensação de segurança.
Para quem está na comunidade, pode ser até planetário ou intergaláctico: a responsabilidade continuará sendo dos governantes locais, em primeiro lugar, porque as famílias estão nessas localidades conflagradas, e não na nação; e, em segundo lugar, dos gestores federais.
A oposição
Por outro lado, veja-se a retórica de parte da oposição, que, embora faça seu papel, acaba descambando para um voluntarismo que já se mostrou equivocado. O embate ao crime se dá também no terreno político, evidentemente, mas é preciso ir além da ação performática ou do enfrentamento limitado a uma gramática já gasta pela repetição segundo a qual o que falta é vontade política para resolver. Isso ficou no passado.
Mesmo o opositor mais ferrenho ao Abolição não há de negar que hoje há um progressivo investimento público em policiamento, pessoal e tecnologia. Por que, então, os resultados não aparecem, ao menos não à mesma proporção com que se destina recurso ao setor da segurança pública? E, afinal, que resultados se esperam para além da redução no número de assassinatos? O número crescente de presos a cada operação é parâmetro para aquilatar o sucesso ou o fracasso de uma política de segurança?
O anúncio em letras garrafais da prisão de duas dúzias de criminosos abordados manejando fogos de artifício assegura que o avanço de uma facção sobre os espaços na capital foi interrompido, ou seja, que o fato gerador do foguetório foi sanado?
Sem luz no fim do túnel?
Existe uma inegável dimensão local do enfrentamento às facções que nenhuma resposta ensaiada pode escamotear. No entanto, seria ingênuo ou de má-fé supor que um problema dessa magnitude se encara de maneira unilateral, estritamente no âmbito da esfera estadual.
Basta reparar nas forças econômicas que se movimentam na esteira do crime, com duas ou três organizações mais bem estruturadas operando como empresas e lógica mercantil em todo o território nacional, e não apenas no Ceará, com notas e informes disparados de lado a lado comunicando os moradores sobre mudanças de gestão do território ou fusões de grupos criminosos, alianças etc.
Calcanhar de Aquiles
Sob ângulo político, o quadro é igualmente complexo. A esta altura, não há dúvida de que 2026 já começou, o que não é muita coisa além de clichê. O que quero dizer é que os competidores estão em campo propondo jogo e apresentando suas estratégias. A da oposição é apanhar o governo Elmano de calças curtas, explorando ao máximo um cenário no mínimo desafiador no plano da segurança.
Afinal, desde a alteração no comando da SSPDS e de outras reformulações de estrutura e de diretriz na pasta, a administração petista vem consumindo praticamente toda a segunda metade do seu mandato com o assunto da guerra às facções.
Para o governo, portanto, é fundamental chegar à corrida eleitoral com algo mais para mostrar ao eleitorado do que uma débil justificativa de que o problema é nacional – especialmente se à frente da nação há um outro petista e também candidato à reeleição, ou seja, se existe um alinhamento político e partidário que dificulta ou mesmo inviabiliza o velho jogo de empurra nessas ocasiões.
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