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Elmano e Cid em lados opostos
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Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.

Elmano e Cid em lados opostos

Em Santa Quitéria, o petista e o pessebista se alinharam a candidatos diferentes. Mas há movimentos ambíguos vindos do PT
Tipo Opinião

Os grupos do governador Elmano de Freitas (PT) e do senador Cid Gomes (PSB) devem estar em lados opostos nas eleições suplementares de Santa Quitéria, marcadas para 26 de outubro depois da cassação da chapa encabeçada pelo prefeito José Braga Barrozo (PSB), o Braguinha. Lá, o petista e o pessebista se alinharam a candidatos diferentes. Enquanto Cid e o deputado federal Júnior Mano (PSB) emprestaram apoio a Joel Madeira Barrozo (PSB), prefeito interino e filho de Braguinha, o PT apresentou o nome de Lígia Protásio, ex-vice-prefeita da cidade. Corre por fora Cândida Figueiredo, do União Brasil, casada com Tomás Figueiredo, que ficou em segundo lugar na disputa de 2024. Como se sabe, Braguinha foi alvo da Justiça Eleitoral, entre outras coisas, por suspeita de vínculos com facção criminosa. No novo pleito, as mesmas correntes do ano passado se encaram mais uma vez nas urnas. A diferença é que, a despeito da investigação e das denúncias que recaem sobre envolvimento de políticos com o crime organizado, o cenário pouco se alterou, com Cid se mantendo ao lado do bloco do PSB em Santa Quitéria - o partido, aliás, não moveu uma palha ainda em relação ao processo que pode resultar na expulsão do ex-prefeito. Caso vença a corrida que se aproxima, Joel Madeira Barrozo representará a continuidade do pai no comando da gestão.

Os sinais do PT

Há movimentos no mínimo ambíguos do PT e do Abolição em Santa Quitéria, porém. O diretório municipal petista, por exemplo, liberou os dois vereadores da legenda para votarem noutro concorrente que não a candidata do partido. Ou seja, os parlamentares devem engrossar a campanha do prefeito interino contra Lígia e Cândida Figueiredo. Se realmente estivesse interessado em derrotar o filho de Braguinha na cidade, o PT de Elmano e de Camilo Santana ou não teria deixado a decisão sobre quem apoiar a critério dos vereadores ou teria feito uma costura com o União, retirando uma das candidaturas e aumentando as chances de sucesso de Lígia ou Cândida. Na prática, ao incentivar a traição à postulação petista, a sigla trabalha para que o prefeito cassado siga mandando na cidade, agora por meio do filho.

PSD esvaziado?

O governismo opera para esvaziar o PSD no Ceará e conter o expansionismo do PSB. Em 2026, o partido de Domingos Filho, secretário de Desenvolvimento Econômico, tende a perder três deputados estaduais, um federal e outros dois vereadores, que migrariam para outras agremiações da base - alguns para o PT, outros para o PDT, que vai se beneficiar também de defecções no PSB. Essa migração se deve a alguns fatores. Um deles é o receio de que o PSD acabe se somando ao bloco de Tarcísio de Freitas na hipótese de o governador disputar a presidência. Sobre isso, causou incômodo no entorno de Elmano a pressão que Kassab fez sobre Camilo por mais espaços, de olho na vice do governador. Já quanto ao PSB, a intenção é administrar a aliança com Cid, marcada por desconfianças mútuas, dificultando a tarefa do senador de fazer do pessebismo uma força maior do que o petismo.

Blindagem boa é a nossa

Foi curiosa a participação de deputados estaduais nos protestos de ontem em Fortaleza contra a PEC da blindagem. Não faz tanto tempo, esses mesmos parlamentares fizeram aprovar um auxílio-saúde na Assembleia de aproximadamente R$ 5 mil mensais, benefício do qual seu eleitorado não pode tirar proveito e que, se bem medido e pesado, não deixa de ser uma espécie de autoproteção, principalmente pela forma acelerada com que a pauta tramitou na Casa. Mas há quem veja nisso apenas uma "blindagem" do bem.

 

Foto do Henrique Araújo

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