Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
A demora de Lula em se manifestar sobre a megaoperação do governo de Cláudio Castro no Rio de Janeiro é sintomática de uma hesitação nesse campo político, cuja leitura dos acontecimentos tenta captar antes o humor do eleitorado, só então se posicionando. O presidente, por exemplo, evitou tecer comentários sobre a investida policial que resultou em 121 mortos no Alemão e na Penha, ainda que Castro, do PL de Bolsonaro, tenha se referido ao episódio como um sucesso desde o primeiro momento. Após quase uma semana, foi a vez de Lula se sair com sua versão dos fatos, classificados por ele como massacre. Para o chefe do Planalto, não há dúvida de que se tratou ali de um morticínio cujo andamento carece de apuração da PF. De lados opostos, os dois políticos representam enquadramentos antípodas sobre as mortes – para uns, medida legal e necessária; para outros, chacina. Até aí, nada de novo, exceto a dificuldade maior da esquerda em se situar, ora condenando o barbarismo como resposta-padrão do combate ao crime, ora endurecendo o discurso, de modo a desafiar o bolsonarismo em seus próprios termos. É o caso do governador Elmano de Freitas (PT).
A receita cearense
Elmano tem apostado na retórica mais beligerante, facilmente encontrada na gramática do conservadorismo. Fez isso no início do ano ao afirmar que, entre o policial e o bandido, que tombe o bandido sempre – um truísmo entre bolsonaristas. Repetiu a receita quando da operação da PM que deixou sete faccionados sem vida em Canindé na semana passada, dias depois da incursão "cruenta" de Castro (palavras de Lewandowski de passagem por Fortaleza). Na ocasião, o chefe do Abolição foi às redes parabenizar o ato das forças policiais, que, grosso modo, não se distancia tanto do episódio carioca – salvo o número de vítimas e a natureza planejada ou reativa, em ambos os cenários o que se nota é a disposição maior para o confronto com elevado patamar de mortes. É evidente que o policial tem de empregar ferramenta e energia proporcionais às do criminoso. Não é disso que se trata, claro, mas da exploração dos efeitos de cada uma dessas expedições militares – no Rio ou no Ceará.
Combinar com os russos
A escolha estratégica de Elmano para se projetar nesse debate colide com a de Lula quando o tópico é o tipo de resposta que o Estado tem de dar à criminalidade. Para o PT, então, seria temerário, sob o ponto de vista eleitoral – ou um contrassenso, digamos –, manter dois discursos, um para condenar a matança levada a cabo por governadores adversários, e outro para festejar quando as PMs sob administração petista recorrem ao mesmo expediente. Dito isso, é possível que Elmano, como gestor estadual, esteja fazendo uma leitura mais inteligente do quadro, identificando demandas latentes do eleitorado (mediante pesquisas qualitativas) e procurando sinalizar identificação com essa agenda. Lula escolheu outro caminho: o de fazer colar em Castro (e em Ronaldo Caiado ou mesmo Tarcísio, potencial concorrente) o figurino da truculência e da ilegalidade.
Maracanaú
Em contato com a coluna, o prefeito Roberto Pessoa (União) negou que tenha intenção de exonerar a secretária da Saúde de Maracanaú, Vanderlange de Sousa Gomes, irmã do dirigente do União, Capitão Wagner. Segundo RP, não é esse o tipo de política que costuma fazer. Ainda de acordo com ele, o critério para definição de seu corpo de auxiliares é fundamentalmente técnico, o que exclui a possibilidade de demitir titular de pasta cujo trabalho é elogiado. Um dia antes, a coluna informou que Pessoa está sob pressão da base para afastar a chefe da Saúde da cidade, de maneira a fragilizar a posição de Wagner.
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