Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Foto: FCO FONTENELE
MINISTRO Camilo Santana, do PT
O ano de 2025 foi de rearranjo das forças de oposição no Ceará depois do racha de 2022, de cujo choque o hoje ministro Camilo Santana (Educação) saiu vitorioso, elegendo em sequência Elmano de Freitas ainda no primeiro turno e Evandro Leitão por margem estreitíssima no segundo turno de Fortaleza em 2024. De janeiro último ao dezembro que se encerra dentro de 48 horas, então, o bloco adversário do Abolição, com Roberto Cláudio e Ciro Gomes à frente, ocupou-se em se reposicionar, migrando do PDT para legendas a partir das quais tenham condições de voltar competitivos em 2026. Daí que quase tudo que movimentou as placas tectônicas da paisagem local tenha se originado nessa dinâmica até agora, quando a pergunta que o mercado político se faz é se Ciro de fato concorrerá ano que vem ao Governo do Estado - ou se caberá a outro integrante da ala anti-PT cumprir essa missão. Foi o seu nome, e não o do irmão Cid Gomes (PSB), que fez a roda da disputa girar, obrigando o Executivo a deixar a zona de conforto de uma reeleição considerada fácil para adotar ritmo acelerado de "entregas". Mesmo sem se apresentar como postulante, Ciro impôs uma reorganização dos discursos de oposicionistas, que passaram a vê-lo como único capaz de enfrentar o camilismo, e de governistas, cujas baterias logo se voltaram para o ex-aliado.
O ano novo
Muito do desenho de 2026, portanto, resultará dos passos de Ciro, Camilo e Elmano em 2025, com as variações possíveis e combinações necessárias. Para o chefe do MEC, estará em jogo a manutenção do condomínio palaciano, peça sem a qual os seus planos de 2030, sejam quais forem, ficariam mais difíceis de alcançar. Lá por março ou abril do novo ano, Camilo deve se confrontar com um impasse: arriscar grande parte de seu capital político na corrida estadual ou reduzir as chances de sucesso dos oponentes entrando formalmente no pleito como candidato? Não é equação das mais simples. Na hipótese de revés de Elmano nas urnas, por exemplo, a fatura seria debitada do ex-governador, e não do sucessor, que só se tornou titular do Governo por empenho do ministro, eleito senador em 2022. Nesse cenário, ele se fragilizaria para projetos futuros, tal como figurar entre os herdeiros legítimos de Lula. Em resumo: as eleições de 2026 são um teste para a liderança de Camilo (mais um) nessa hegemonia em construção e em cujo horizonte há uma variável interna e uma externa a se considerar, ambas imprevisíveis: Cid e Ciro.
As dúvidas para 2026
A esta altura há mais dúvidas do que certezas sobre as eleições de outubro. Primeiro e mais importante: a oposição vai estar unida ou fragmentada no plano nacional? Se estiver dividida, as chances de Lula aumentam, o que significa dizer que seu potencial para atrair siglas do centrão também tende a crescer. Nesse quadro, partidos como Republicanos, União Brasil, PP e PSD, hoje na esfera do Planalto, devem se manter no arco de sustentação do petista. Sem um palanque robusto para além do PL bolsonarista, a oposição chegaria isolada para a corrida. Isso teria consequências no Ceará, onde o arco de sustentação de Elmano ainda tenta fisgar a federação União/PP para a ala governista. Se o Abolição tiver êxito na operação, qualquer candidatura concorrente, mesmo a de Ciro, iria para a briga em desvantagem - o que talvez acabe fazendo-o reconsiderar essa possibilidade de se candidatar. Aliás, é nisso que o governismo aposta suas fichas hoje, isto é, ganhar o jogo antes do jogo asfixiando os adversários.
Até a volta
Entro agora num período muito aguardado de recesso e, depois, de férias. Desejo boas festas e feliz ano novo aos leitores da coluna. Volto ao final de janeiro. Até lá.
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