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Em nome do pai: um ano após eleição presidencial, Eduardo assume o legado de Bolsonaro
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Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.

Em nome do pai: um ano após eleição presidencial, Eduardo assume o legado de Bolsonaro

Deputado federal mais votado do País, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) assumiu o legado do pai. Parlamentar é hoje a maior aposta dentro do bolsonarismo, apontam especialistas. Pesselista desistiu de vaga na embaixada dos EUA
Tipo Notícia
Eduardo Bolsonaro relacionou o acidente em metrô de SP com a contratação de mulheres por concessionária (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Eduardo Bolsonaro relacionou o acidente em metrô de SP com a contratação de mulheres por concessionária

Como Dom Pedro I dois séculos atrás, Eduardo Bolsonaro teve o seu o “Dia do Fico”. Foi na terça-feira, 22. Em discurso na Câmara, o deputado federal de 35 anos desistiu da embaixada nos Estados Unidos e, já como novo líder do PSL, anunciou: “Fico no Brasil para levantar as bandeiras do conservadorismo e apoiar o presidente Jair Bolsonaro”.

Para especialistas, a fala demarca uma mudança dentro do bolsonarismo um ano depois da vitória do presidente nas urnas, em 28 de outubro do ano passado. Príncipe-regente da família presidencial, Eduardo assumia, ali, o legado do pai, que matava dois coelhos com uma cajadada – desincumbia o filho da tarefa de enfrentar a indicação para o posto avançado no Itamaraty, submetendo-se a uma votação incerta no Senado que, em caso de derrota ou de vitória, cobraria altíssimo preço.

E, de quebra, projetava-o dentro do PSL, onde os seus aliados enfrentam a resistência do grupo ligado ao presidente da sigla, o também deputado Luciano Bivar, contra quem Bolsonaro vem se batendo há mais de um mês.

Ninguém melhor que Eduardo, portanto, para conduzir as tropas nessa frente de batalha partidária, assim como já fizera quando o pai foi alvo de uma facada e coube ao parlamentar rodar pelo País à frente da campanha eleitoral.

Cientista político da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas afirma que Eduardo “sempre foi esse filho mais parecido com o pai”. Para ele, o 03 “é nacionalmente mais conhecido do que o Carlos (Bolsonaro, vereador no Rio), é jovem, tem uma militância mais aguerrida e uma profissão mais próxima da de Bolsonaro” (é escrivão da Polícia Civil), o que o faz incorporar melhor o ethos do bolsonarismo.

“Eduardo não tem os problemas do Flávio, e o Carlos está no Rio como vereador. É o nome mais adequado para herdar o seu capital”, avalia o pesquisador. “Se algo acontecer, quem melhor que alguém que seja tão semelhante ao pai a ponto de ter o seu sobrenome?.”

De acordo com ele, é exatamente uma transferência de bastão o que vem se passando dentro das forças que atuaram para alçar Bolsonaro à Presidência. Seja porque o patriarca pode se inviabilizar para 2022 por razões de saúde ou porque decidiu honrar o compromisso de não disputar a reeleição, a família começou a trabalhar a estratégia de concentrar holofotes em Eduardo.

“E é uma estratégia que parece acertada politicamente”, acrescenta Freitas. “Houve a tentativa de emplacar o deputado como embaixador, mas acabou sendo abandonado por força das circunstâncias. Aí deslocam o filho para a posição de líder, que lhe dá projeção nacional.”

Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Musse subscreve a tese de Freitas. Questionado sobre o novo papel de Eduardo Bolsonaro a partir de agora, depois da desistência da embaixada nos EUA, ele responde: “Eu não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Eduardo é Bolsonaro”.

Musse explica que, dentro da família, há divisões claras de tarefas. “Bolsonaro é o político, a figura pública. Carlos administra as redes, as milícias virtuais e parlamentares. E Eduardo é o elo com a extrema-direita internacional”, analisa.

Deputado federal mais votado do Brasil, com 1,8 milhão de sufrágios em 2018, Eduardo é, sugere o pesquisador, a mente por trás de Bolsonaro. “Ele é o cara que faz a cabeça do pai. O projeto político do Bolsonaro, que o Eduardo orienta e está identificado com Steve Bannon, é o de desmonte da esfera pública e do que é estatal.”

Como ponta de lança, Eduardo já começou os seus trabalhos. Nesta semana, prometeu organizar as disputas eleitorais do ano. No Twitter, escreveu ontem: “Vou andar por São Paulo e Brasil identificando pessoas bem intencionadas para somar forças neste movimento conservador”.

Um dia antes, em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde foi homenageado, citou nominalmente o deputado estadual André Fernandes, do PSL do Ceará. É sinal de que, dentro do bolsonarismo, os passos para 2020 já estão sendo dados.

Foto do Henrique Araújo

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