Bolsonaro é assombrado por caso Marielle, que chega a outro patamar
Henrique Araújo é jornalista e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Articulista e cronista do O POVO, escreve às quartas e sextas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades e editor-adjunto de Política.
Bolsonaro é assombrado por caso Marielle, que chega a outro patamar
Reportagem do "Jornal Nacional" afirma que investigação da Polícia descobriu que um dos suspeitos de matar Marielle pediu para ir à casa de Bolsonaro horas antes do crime
Antes sob pressão de Fabrício Queiroz, o assessor das “rachadinhas”, o presidente Jair Bolsonaro é agora assombrado pelo caso de Marielle Franco, vereadora do Psol assassinada em 14 de março de 2018. Embora haja muitas lacunas a serem respondidas a partir de reportagem do “Jornal Nacional” que mostra possível ligação entre Bolsonaro e um dos suspeitos da execução de Marielle, o motorista Élcio Queiroz, as investigações chegam a outro patamar neste momento. Envolvem diretamente a autoridade máxima da República.
As apurações não prosseguem enquanto Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, não disser se o caso fica com a Polícia Civil do Rio ou se passa ao STF, que é quem tem prerrogativa. É preciso que o ministro responda a isso com máxima urgência, de modo que o trabalho de elucidação do crime não seja atrapalhado. E também porque o depoimento do porteiro, ao qual a emissora teve acesso, é bombástico.
A se mostrar verdadeiro, ele revela que, horas antes do assassinato de Marielle, um dos suspeitos encontrou-se com outro participante do assassinato no condomínio onde Bolsonaro e o filho moram. Mais que isso: o acesso ao interior do residencial foi conseguido porque Élcio havia procurado Bolsonaro, obtendo de alguém que se apresentou como “Seu Jair”, no número 58 (imóvel do presidente), a autorização para entrada. Então deputado federal, o ex-capitão estava em Brasília nesse dia. Ele nega que tenha permitido a qualquer pessoa ingressar no condomínio. Seu advogado também falou que o pesselista não conhece Élcio.
Como disse, há muitas perguntas sem resposta ainda, e é por isso que a investigação chega a uma etapa delicada e explosiva, diante da qual o Supremo tem de se pronunciar de imediato. Do contrário, as muitas teorias sobre o caso, já fartas e de muitos vieses, vão se propagar. Descobrir quem mandou matar Marielle tornou-se ainda mais imperativo. Para isso, é fundamental descobrir se alguém que não o presidente, mas de dentro da sua casa, franqueou o acesso de um assassino à casa 58 e quais as relações entre Élcio e a família presidencial.
Em transmissão ao vivo minutos depois da veiculação da reportagem, Bolsonaro cumpriu o roteiro de sempre: atacou a imprensa, a qual chamou de porca e patifaria, e ameaçou não renovar a concessão da Rede Globo. Nada de novo no conteúdo. No tom, porém, algo havia mudado: o presidente estava visivelmente nervoso. Esmurrou a mesa algumas vezes antes de desligar, desculpando-se pelos excessos. Antes, acusou a Globo de querer ver seu filho preso. Um detalhe: a matéria do JN não cita qualquer dos filhos de Bolsonaro.
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